Acho que preciso esclarecer algumas coisas em relação ao que eu penso sobre música gratuita na internet:
1) Não faço parte de nenhuma das duas torcidas mais comuns. Não acho que tudo tem que ser gratuito e acabou, nem posso concordar com que se tente punir quem baixa música de graça.
2) Não acho que a gratuidade seja uma meta. Ela é um mal irreversível para os artistas em atividade, contra o qual é tão inútil lutar, como não concordar com a lei da gravidade.
3) A música tem custo e valor, ela não é feita de graça. A música grátis tem que fazer parte de uma estratégia para divulgar e vender - seja música, ingressos de shows ou merchandising.
Digo essas coisas porque sinto que preciso me posicionar para não ser colocado como exemplo de posturas que não tenho.
Faço parte do Música Para Baixar porque acredito que não haja como controlar o compartilhamento de música pela internet. E que, em diversos casos, o controle seria péssimo para a cultura. Vejam os casos de discos que estão fora de catálogo. O desinteresse de uma gravadora em lançar o repertório de determinado artista colocava-o no ostracismo irreversível. Que direito têm as gravadoras de impedirem a sociedade de ter acesso a um bem cultural? Quantas jóias ficavam trancadas nos cofres dos detentores de direitos autorais e agora circulam livremente pela rede, beneficiando artistas e público? Processar os fãs, ou impedir que eles tenham acesso ao que desejam, nunca me pareceu uma estratégia muito inteligente para se conquistar mais fãs. Outro dia – outubro de 2009! - vi um advogado da indústria do disco dizer que a forma de se controlar os downloads “ilegais” é usando de tecnologia e que o DRM é uma forma eficiente de fazê-lo. Em que mundo essa pessoa vive? Todo mundo desistindo do DRM e ele achando que é solução!
Quais a principal vantagem da gratuidade? Divulgação. A música gratuita chega muito mais facilmente às pessoas, já que elas podem conhecê-la antes de se decidir a gastar dinheiro. Se você não der, a possibilidade de que as pessoas queiram se arriscar no escuro é infinitamente menor. Se compararmos ao preço do jabá para ter execução em rádio, o compartilhamento de arquivos é uma bênção para os artistas. Os fãs fazem o trabalho que precisamos, sem cobrar, e gratos pela nossa generosidade. Daí o mote do Música Para Baixar: Fã não é pirata! É divulgador. E esse quer nos ajudar financeiramente para que continuemos a dar o que ele quer: música de qualidade.
Quando as rádios começaram a executar música as gravadoras acharam que ela seria danosa para as vendas, porque ninguém compraria algo que estava sendo entregue de graça nas casas das pessoas. E nada foi tão importante para divulgar e vender música quanto o rádio. Estamos no mesmo caso. Nada divulga e populariza tanto a música quanto o acesso gratuito à mesma.
Por outro lado, não quero o fim do direito de autor – embora ache que ele precise ser revisto -, não acho que a cultura é social e gratuita por princípio, não quero o fim das gravadoras. E quero ganhar dinheiro sem culpas esquerdistas.
Resumindo, não há negócio nem profissão que seja totalmente gratuito. Alguém tem que pagar alguma coisa em algum momento para que haja profissionais sobrevivendo daquele negócio. Mas a proibição de compartilhamento de música na rede, além de impossível, não vai ser o esteio financeiro dessa história. Quero que abracemos a gratuidade como uma das ferramentas para nos aproximarmos do nosso público e criarmos uma outra forma mais inteligente e contemporânea de ganharmos a vida fazendo música. Dialogando o @penas, música é profissão, sim. Mas muito diferente do que já foi.
28 de out. de 2009
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>>não acho que a cultura é social e gratuita por princípio
ResponderExcluira cultura é social por excelência:
um autor não existe sem um receptor.
Vou me explicar melhor, um pensador marxista me disse que a produção cultural tem que ser gratuita para a sociedade porque o produtor recebeu dessa mesma sociedade as ferramentas de sua produção. Por isso não teria direito de cobrar nada. É nesse sentido que eu falei.
ResponderExcluirAcho que penso quase da mesma maneira.
ResponderExcluirO modelo que mais gosto até o momento
parece ser o de assinatura, estilo Spotify, porém com mais recursos. Muito mais.
Estou montando uma lista deles para elaborar um texto e divulgar.
Por uma mensalidade teríamos acesso a
um vasto catálogo, a tal celestial jukebox,
que ofereceria todas as músicas de todos os
artistas do mundo (streaming e download).
O acesso seria via computador, celular, TV...
A ideia é que o acesso seja amplamente
disseminado no mundo e que quase ninguém
queira ficar de fora.
O artista receberia por execução de músicas.
Poderia haver parceria com anunciantes.
Enfim, a ideia é que artistas/produtores/gravadoras recebam grande parte da receita gerada por assinantes/anunciantes.
Paulo
Os últimos lançamentos em CD que iria comprar, qdo comentei com algum amigo, ele já tinha a mp3, e me passou. Não precisei comprar. Não sou de baixar música por falta de tempo de ficar em casa no computer. Mas tenho conseguido os últimos cds que quero, integralmente, por amigos que compraram ou baixaram e me passam gratuitamente. Minha irmã comprou o último cd do Arnaldo Antunes, gostou e copiei pra mim do original dela. Então acho que talvez esse lance de assinatura não resolve o problema. Hugo
ResponderExcluirServiços de assinatura como eu tenho
ResponderExcluirvisto realmente não resolvem.
Eles precisam oferecer muito mais ao ponto
de que quase ninguém queira ficar fora.
Não me veio uma analogia melhor... mas seria como preferir pagar para lavarem o teu carro do que lavar você mesmo.
Pode parecer utópico um serviço/rede social onde toda a música do mundo esteja disponível.
Mas penso que mais utópico ainda é tentar barrar o compartilhamento.
Fico imaginando o seguinte cenário em breve: -celulares/smartphones com mais capacidade de armazenamento
-transmissão de dados sem custo muito mais veloz (evolução do bluetooth)
Todo mundo carregando nos aparelhos milhares de músicas que poderão ser acessadas/copiadas/ouvidas por qualquer um que esteja num raio de x metros/km.
Por isso acho que para atrair essa galera acostumada ao gratuito somente um serviço de assinatura atraente em que o ouvinte perceba que é muito mais prático ser assinante do que não ser.
Paulo
Hugo, acho que o CD vai continuar existindo, mas vai deixar de ser o foco principal de quem faz música. Aliás, nunca foi. Temos que ter vários tipos de receitas que se complementem: assinaturas, anúncios, venda direta, merchandising, shows etc.
ResponderExcluirLeoni, ontem recebi um post de outro blog de música que assino, assim como o ML, com uma entrevista com o músico Matthew Ebel.
ResponderExcluirEle comentou que trabalha quase exclusivamente como músico. Inclusive divulgou seus rendimentos (em %) de janeiro a setembro de 2009.
Achei interessante. É bem como tu comentou sobre as diversas fontes:
Music Sales:
CD Sales - 4.1%
Digital Music Sales - 13.9%
Subscription Site - 36.9%
Live Shows - 18.1%
Cover Gig Fees/Cover - 9.8%
Original Gig Fees/Cover - 6.2%
Tips (Including UStream) - 2.1%
Works For Hire & Voiceovers - 8.2%
Affiliate Sales (typically for my own albums/tracks) - 1.1%
Licensing - 13.2%
Independent Film - 6.6%
Internet - 6.6%
Web Design - 4.6%
(I include this because I’m doing a website for a friend… it’s something I choose to do, but it is part of my income this year.)
Post completo: http://www.musicthinktank.com/blog/in-defense-of-1000-true-fans-part-ii-matthew-ebel.html
Paulo
Leoni...te parabenizo mais uma vez aqui...to contigo e não abro...acho que você tem toda a razão...sou artista ainda no anonimato e acho que esse caminho da música na internet é o melhor para todos...mesmo para os que tem uma carreira sólida como a sua.
ResponderExcluirAbraço!
Olá Leoni e demais,
ResponderExcluirConcordo com a idéia que a autora Lis Rodrigues nos traz: O direito do compositor é soberano!
Ela faz parte de um coletivo de compositoras(es) chamado Cauibi e publicamos um texto dela no nosso blog do MPB: http://musicaparabaixar.org.br/?p=429
Essa esse entendimento de Lis vai de encontro da defesa do Leoni, e que é central acharmos formas de remunerar quem vive da música, e liberar na internet deve ser uma política parte de uma cadeia produtiva da música.
Mas, as regras estabelecidas de hoje não permitem que possamos fazer isso de forma legal.
Por isso, as polêmicas sobre o debate e reforma da lei do direito autoral inicia no dia 9 de nov, onde será iniciado a consulta pública.
Participar do III Congresso de Direito de Autor e Interesse Público nos dias 09 e 10 de Novembro - São Paulo será o início para enfrentarmos os interesses de quem suga a criatividade das(os) autoras(es).
Precisamos estar lá para equilibrar o jogo, e não deixar os monopólios levarem tudo novamente.
Vejam aqui: http://www.cultura.gov.br/site/2009/09/30/iii-congresso-de-direito-de-autor-e-interesse-publico/
Vamos em frente.
Publiquei o texto do Leoni no blog do MPB: http://musicaparabaixar.org.br/?p=437
Leoni, concordo. E acho que a música vai depender cada vez mais do patrocínio, do merchandising, da propaganda. Exemplo: no site oficial do músico, onde ele disponibilizará gratuitamente a música, haverá anúncios. O artista com mais hits baixados, com o site mais movimentado vai atrair mais anunciantes. Ouvi falar que o Marcelo Tazz ganha uma grana por um anúncio que tem lá no twitter dele. Acho que o cd passará até a ser distribuido gratuitamente, ou por um preço simbólico, mas na capa e no encarte virão em destaque as logomarcas dos anunciantes, dos patrocinadores. Acho a única saída. Que me lembre, a única "forma de arte" que chega gratuita para o consumidor é a TV e ela se sustenta com a propaganda. A música (não os shows) vai ter que virar isso. Ab. Hugo
ResponderExcluirA PEC da Música, que teve sua votação adiada duas vezes, irá, novamente, a Plenário AMANHÃ, DIA 04/11, A PARTIR DAS 16H, NA CÂMARA DOS DEPUTADOS!
ResponderExcluirAinda há tempo de pedir aos deputados de seu Estado que votem a favor da Proposta. A lista de e-mail de todos os parlamentares está disponível aqui: http://www2.camara.gov.br/deputados/arquivo
A PEC, de autoria do Deputado Federal Otavio Leite, elimina os impostos sobre a música brasileira em qualquer suporte e qualquer formato: CDs, DVDs, MP3, downloads para celulares etc. O objetivo é reduzir impostos, valorizando a cultura nacional e ajudando no combate à pirataria.
Informe seus leitores, divulgue, mande e-mails aos deputados e pressione!
A direta participação de músicos, artistas, produtores e outros interessados no tema tem sido fundamental!
Maiores informações: http://www.otavioleite.com.br/pesquisa.asp?q=pec+da+musica
Twitter da PEC: http://twitter.com/pecdamusica
Twitter do Deputado Otavio Leite: http://twitter.com/otavioleite
acho tudo isso muito interessante, toda essa discurção sobre musica gratis, ou melhor se ela deve existir ou nao, mais ai pergunto, como um pai e uma mae q ganham em torno de 500 a 600 reais teriam condiçoes de sustentar todo um vicio musical de 3 filhos? com compras de cds e etc? lembrando q tbm hj na net alem d musica vc baixa filmes facilmente, sera q tudo isso, com todo esse acesso a diverção gratuita, nao fikaria mais facil p esse casal adiministrar as coisas?
ResponderExcluirAnônimo, você tem razão em parte. A coisa é mais complexa. Por que tem que pagar o provedor da banda larga, mas não tem que pagar quem gera o conteúdo? Por que tem que pagar o computador, mas não o autor?
ResponderExcluirMas isso é só para aquecer o debate. A realidade é essa e acabou.
Aproveitei o feriadão e coloquei a leitura em dia:
ResponderExcluirli todo o Música Líquida (posts e comentários).
Parabéns pelo blog!
Pena ter descoberto o ML somente há duas semanas.
Por onde eu andava na web só lia notícias de
combate ao compartilhamento. Descobrir que
tem muita gente que pensa como o Leoni, como o Marcelo,
foi excelente. Concordo com a posição de vocês
sobre o futuro da música. Achei o ebook End of Control do
Gerd Leonhard ótimo.
Também li o Manual de Sobrevivência no Mundo Digital. Bela leitura!
Assim que der transformo minhas anotações sobre ele
em texto legível e envio por email.
Mas quero deixar uma pergunta para o Leoni, Marcelo
e leitores: vocês sabem se há algum projeto em andamento
que vise unir mundialmente os músicos que estão dispostos a liberar
suas músicas? Algo não-proprietário, padronizado, independente
de plataforma, com o objetivo de agregar conteúdo, onde o artista
envia seu material (músicas, letras, biografia, fotos, vídeos, etc.)
e esse conteúdo pode ser acessado por qualquer site/programa, mediante registro.
Um ambiente que ofereça os melhores recursos de Spotify, Myspace,
last.fm, audiogalaxy (lembram desse?), Facebook, Orkut, etc.
Bem, não sei se consegui expressar bem a ideia. É possível que
exista um termo que resuma todo o parágrafo anterior, mas por não
ter acompanhado a discussão desse tema eu desconheço.
Paulo
Paulo, primeiro quero agradecer pelos elogios. Espero que estejamos sendo úteis para os artistas e fãs.
ResponderExcluirQuanto a uma plataforma única, não há nada nem sonhado a esse respeito. Nem os artistas no Brasil chegaram a um consenso sobre esse assunto. Acho que a realidade vai nos empurrar para uma solução, ao invés de conseguirmos criar a nossa realidade.
Infelizmente.
Leoni,
ResponderExcluirexcelente o seu ponto de vista, além de muitíssimo bem colocado. Concordo com vcem número, gênero e grau.
Sobre "criarmos uma outra forma mais inteligente e contemporânea de ganharmos a vida fazendo música.": Tenho certeza q essa 'solução' virá dos criadores, mas tb acredito q não virá como uma descoberta científica. Do tipo: Pronto eis a solução...
Acredito q ela virá de pequenas ações isoladas (q já começam a pipocar por aí) que vão se aglutinar e se tranformar num 'status quo'. O q me assusta é que isso demanda muito tempo, e nesse meio tempo, muitos artistas mudarão de profissão por necessidade de sobrevivência e muitos artistas promissores desistirão da carreira antes de efetiva-las.
Se pensarmos nesse processo como uma 'seleção natural darwiniana' corremos o risco de reduzir a criação artística a níveis alarmantes como num processo de extinção.
muito bom conhecer esse espaço
abs
RONALDO !
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