17 de jun. de 2009

O futuro a Deus pertence, o passado está escrito - 1



Texto do Beni Borja.

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Visões apocalípticas nos assaltam por todo lado. O produto físico acabou. A música gravada será gratuita. Os publicitários vão tomar conta do negócio e todos faremos jingles. Morreremos todos de fome. Parece interminável a lista de desgraças previstas para o nosso destino de fazedores de música.

Prever o futuro é esporte de alto risco, do qual já me aposentei.

O certo é que estamos perdendo a locomotiva do negócio da música como conhecíamos. Mas o trem é longo, e essa não será a primeira vez que trocamos de locomotiva. Uma visita aos 250 anos de história que precederam as nossas incertezas de hoje, talvez possa nos acalmar um pouco.

Duzentos e cinquenta anos!?! É isso mesmo que voce leu. O negócio da música começou a tomar a forma empresarial que ele tem hoje em meados do século XVIII, quando as primeiras editoras de música foram fundadas.

As editoras são as empresas mais antigas do negócio da música. Se chamam editoras porque originalmente o seu negócio era publicar partituras. Algumas dessas empresas ,com mais de duzentos anos, como a italiana Ricordi e a inglesa Boose & Hawkes , continuam publicando partituras até hoje.

No final do século XIX , para ouvir música era preciso que alguém a tocasse. As partituras eram então a locomotiva da música.
Para um compositor dessa época, ter sua música publicada por uma grande editora era como para um artista de anteontem ter seu disco lançado por uma grande gravadora, era o caminho inevitável para alcançar o sucesso comercial.

No início do século passado, em poucos anos, a música gravada substituiu as partituras como propulsora do negócio da música. Quando o público inevitávelmente passou a preferir ouvir Enrico Caruso do que o tenor desafinado da esquina , uma paisagem desconhecida tomou o horizonte da música.

Então apareceram os inevitáveis cavaleiros do apocalipse. Quem vai escrever música, sem editoras para lançá-las ? Quem vai fabricar instrumentos se só músicos profissionais vão tocá-los? Quem vai pagar as nossas contas??

A crise veio e muitas editoras fecharam ou foram compradas por outras. Mas com o passar dos anos muitas sobreviveram, porque usaram o relacionamento que tinham com os compositores para se tornarem suas representantes nas relações que eles precisaram estabelecer com as novas gravadoras e os intérpretes das suas obras.

As editoras, desde então, são as representantes dos autores na exploração comercial das suas obras. Esse papel de representante (muitas vezes feito de forma lesiva aos interesses econômicos do autor, mas isso é conversa que não cabe aqui) garante as editoras um lugar destacado no empurra-empurra de rearrumação que estamos vivendo entre os principais atores no negócio da música.

Ou seja, muita calma nessa hora , porque o futuro a Deus pertence.

Saudações musicais,

Beni

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