16 de jul. de 2009

Quem disse que o streaming matou a partilha de ficheiros?

Post de hoje do ótimo blog português Remixtures
by Miguel Caetano on Julho 14, 2009


Antes do texto do blog queria dizer que ninguém pode dizer com certeza o que vai acontecer. Temos indícios e nos fiamos neles. Por isso, acho muito oportuno publicar no mesmo dia uma opinião contrária à do Gerd Leonhard - blog logo abaixo. As conclusões são de cada um.

"A acreditar numa artigo ontem divulgado pelo The Guardian sobre uma pesquisa da empresa britânica de estudos de mercado The Leading Question em conjunto com a Music Ally, os fãs de música estão a deixar de copiar ficheiros obtidos através de redes de partilha de ficheiros e a optar em lugar disso por serviços mais-ou-menos legais de streaming de música como o Imeem ou a Last.fm.

Segundo o inquérito baseado numa amostra de mil indivíduos, a percentagem global de fans de música que descarregam música não autorizada de redes de P2P pelo menos uma vez por mês desceu para os 17 por cento em Janeiro de 2009 face aos 22 por cento registados no inquérito de Dezembro de 2007. A maior descida registou-se mesmo na faixa etária dos adolescentes entre os 14 e os 18 anos: de 42 por cento em Dezembro de 2007 para 26 por cento em Janeiro de 2009.

À primeira vista, serviços gratuitos como o YouTube, MySpace e o Spotify – que caiu nas boas graças das grandes editoras discográficas provavelmente porque apenas está disponível naqueles países com mercados publicitários mais atractivos -, parecem ter ocupado o lugar do Limewire, Pirate Bay e outros sites de BitTorrent: 65 por cento dos adolescentes entre os 14 e os 18 anos afirmaram escutar regularmente música via streaming. 31 por centes deles disseram que fazem diariamente streaming de música a partir do seu computador face a apenas 18 por cento de todos os que foram interrogados.

Mas a jornalista que escreveu o artigo esqueceu-se muito convenientemente de referir que a percentagem global de fãs de música que admitiram já terem alguma vez partilhado ficheiros aumentou de 28 por cento em Dezembro de 2007 para 31 por cento em Janeiro de 2009. No comunicado os autores do estudo referem ainda que um número maior de fãs partilha CDs gravados entre amigos e transfere faixas via bluetooth do que aqueles que descarregam os MP3s de sites e redes de partilha de ficheiros.

Estes dados é que importam e são fundamentais para perceber a actual transição pela qual o negócio da música está actualmente a passar. Na verdade, embora os sites legais de música possibilitem que os titulares de direitos exerçam um maior controlo sobre os seus conteúdos, muitas vezes eles apenas são utilizados para saber se vale a pena ou não descarregar os álbuns – DE BORLA a partir do Pirate Bay ou do Rapidshare.

Ou seja, na prática as gerações mais novas parecem ter definitivamente abandonado o hábito de comprar CDs. Isso mesmo é demonstrado pelo facto da percentagem de fãs que partilham regularmente álbuns (13%) é superior à daqueles que adquirem a versão digital a partir do iTunes ou da Amazon (10%). O mesmo já não se passa com a percentagem de downloads legais de singles (19%) que já ultrapassaram os downloads a partir de redes de P2P (17%).

Mesmo assim, a distância entre o sector legal e ilegal começa a diminuir: se em Dezembro de 2007 o rácio de faixas obtidas a partir de redes de P2P face às adquiridas em lojas online era de 4:1, em Janeiro de 2009 esse rácio desceu para 2:1.

É claro que as editoras discográficas e as sociedades de gestão colectiva de direitos de autor têm algumas razões para estar contentes. Mas não muito é que tanto o YouTube como o Spotify têm demonstrado alguma debilidade financeira. Ou seja: se com o Pirate Bay eles não recebem absolutamente nada, com estes serviços de streaming eles apenas recebem alguns cêntimos de euros mensais por cada utilizador.

Para além disso, estudos deste tipo pecam sempre por uma grande falta de transparência. Será que os seus autores contaram com o Rapidshare, o MegaUpload e outras dezenas de serviços de alojamento de ficheiros online? Quais as perguntas que foram colocadas? Ficamos sem saber. Nisto tudo, apenas acho lamentável que pessoas perfeitamente razoáveis incorram mais uma vez no erro de confundir a partilha com o roubo apenas porque lhes é mais conveniente.

Já agora: é bom não confundir o cenário britânico onde se pode aceder ao Spotify e à Last.fm sem pagar nada com o da nossa terra, em que somos relegados a excertos de 30 segundos apenas porque não temos o poder de comprar suficiente para atrair anunciantes de prestígio.

(foto de Adri H segundo licença CC-BY-NC-ND 2.0)"

Bookmark e Compartilhe

2 comentários:

  1. Olá, falo do assunto tambem em meu blog recém criado: www.cafecomnotas.blogspot.com sobre a importancia disto. Parabéns pelo seu blog.

    ResponderExcluir
  2. Caro Leoni. Meu nome é Paulo Portinho, trabalho com esse tema há alguns anos e acredito ter idéias conciliatórias a respeito do assunto.

    Antes de tratar delas, quero sugerir um texto que submeti ao congresso da ENANPAD de 2001. O texto é de 28/04/2001 e, salvo alguns poucos reparos que faria, parece estar bem atual.

    O link é: http://www.portinho.com/pdf/Artigo%20ENANPAD%20-%20Resumo%202001.06.11.pdf

    Apresentei este texto, à época, para Nelson Motta e para Herbert Vianna. Herbert é meu amigo pessoal, tocamos juntos algumas vezes. Ele me conhece como Paulinho de Mendes, primo do Cebolinha.

    Meu site é www.portinho.com. Também sou músico há 23 anos.
    No meu site há um "cemitério de hits", músicas que considera excelentes, mas que nunca encontraram o caminho do sucesso.

    Caso goste da forma como trato o tema, podemos nos corresponder. Comprometo-me a colocar num artigo a visão de futuro que consegui desenvolver, ao longo de anos de análise.

    Meu contato é home@portinho.com

    Forte abraço e parabéns pela iniciativa.

    ResponderExcluir