16 de jun. de 2009

Assoviando e chupando cana



Em um artigo presente aqui no blog, Beni Borja comentou que

A especialização do trabalho é um fato inescapável da vida econômica no nosso tempo. Quem faz arte, se puder, se ocupará só de criar. Quem gerencia os negócios que surgem à partir da arte, tenderá a se ocupar exclusivamente de fazer dinheiro com a criação dos outros.

Essa divisão de trabalho é um avanço da civilização, que não vai desaparecer só porque apareceu um novo modelo de negócios. Passado o momento de confusão, continuaremos tendo empresários e artistas.

Em O Culto do amador, que leio em pílulas, achei um trecho que complementa o que Beni disse acima:

No século XIX, essa divisão do trabalho não se refere apenas à decomposição de tarefas numa fábrica manufatureira ou numa linha de montagem. Ela inclui o trabalho daqueles que escolhem uma profissão ou campo, adquirem educação ou treinamento, ganham experiência e desenvolvem suas habilidades dentro de uma meritocracia complexa. Todos eles têm o mesmo objetivo: adquirir expertise.

Numa sessão famosa de
A ideologia alemã, Karl Marx tentou seduzir o leitor com um mundo pós-capitalista idílico onde todo mundo pode "caçar de manhã, pescar de tarde, criar gado ao entardecer e criticar após o jantar". Mas se todos nós podemos ser simultaneamente caçadores, pescadores, criadores de gado e críticos, pode algum de nós realmente sobressair em alguma coisa, seja na pesca, na criação de gado ou na crítica?

***
O que será que isso tem a ver com o estado atual do mundo da música?

6 comentários:

  1. Essa especialização é muito bem vinda, mas ela depende de haver dinheiro suficiente em circulação para que mais gente possa tirar seu sustento daí. Quando isso não acontece, só os capazes de acumular funções conseguem sobreviver, já que não há ninguém mais para realizar as outras tarefas.
    Inclusive, adoraria passar a bola de muito do que eu faço. Alguém se habilita?

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  2. Esse é o x da questão. O dinheiro sumiu, ou melhor, mudou de endereço. Como desfazer esse nó górdio, não só com a música, mas com a imprensa e outros serviços? Como remunerar a excelência?

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  3. Prá exercitar meu papel de polemista-residente :

    O dinheiro não sumiu não. Eu vi outro dia em algum lugar uma estatística que dizia que a queda de receita da música considerando aí tudo : shows/discos/direitos etc e tal tinha sido menor do que 10% ( não me lembro do valor preciso) no século 21 ... ou seja o dinheiro está aí , ele só não está é indo prás mãos certas.

    Prá o bolo voltar a crescer é preciso haver uma reorganização de capital e trabalho( o velho Carlos Marques ,sempre presente) ...

    É isso que estamos vivendo, nesses tempos desconfortáveis.

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  4. Isso, não está indo pras mãos certas. Mas pra muita gente, a sensação é que desapareceu.

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  5. Estatísticas nem sempre são confiáveis. Que pesquisa é essa e para onde está indo o dinheiro se o universo é o mesmo: shows/discos/direitos? Acho que a grana pode ter ido para provedores, Google etc. Mas não está no mesmo lugar, com certeza.

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  6. Ao que parece, o poder ($$$) hoje está com quem provê o conteúdo, em detrimento de quem o produz. Tanto vale para os Googles quanto para gadgets como iPod, iPhone e celulares. Parte da aura dos LPs e CDs foi drenada para as engenhocas transadas.

    Mas concordo com o Beni quanto ao momento de reorganização pelo qual estamos passando.

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