26 de mar. de 2009

Recebido por e-mail - Fim de Jogo

Recebi do Beni Borja, meu parceiro - e um pensador da música há tempos -, esse e-mail que repasso para vocês:

"Caríssimos, alguns meses atrás, eu contribuí para a superlotação das suas caixas postais com um email onde eu saudava a contratação pela EMI do Douglas Merrill da Google, para a vice-presidência da gravadora inglesa.

Ontem o novo chefão da EMI, um executivo italiano que fez carreira vendendo produtos de limpeza, anunciou a demissão do sujeito, depois de menos de um ano de casa.


Na ocasião, me pareceu que a contratação de um ex-Google pela menor das "majors", era um sinal de que finalmente elas se renderiam ao inevitável. Quis acreditar que, finalmente, a indústria fonográfia começaria a se mover na direção de um novo modelo de negócio adequado à realidade da vida digital.

Puro otimismo da minha parte.


No último ano ficou cada vez mais claro que isso não vai acontecer. A estratégia das grandes é cada vez mais se concentrar no que ainda resta de mercado para produtos físicos (CDs), ao mesmo tempo em que, sem nenhuma competência, tentam ingressar no mercado de shows. Ou seja, caminham a passos largos para a irrelevância.


Só as grandes gravadoras tinham o poder de tentar fazer uma transição relativamente ordenada para um novo mercado de música digital. Talvez elas não tivessem na prática esse poder, talvez lhes tenha faltado a coragem de dar um salto no escuro, mas o certo é que o momento onde a sobrevivência era possível já passou. Agora resta apenas uma lenta morte por inanição.


Lamento este fim melancólico. Não porque eu tivesse algum apreço especial pelo antigo modelo, mas porque o desmonte da indústria como conhecemos deixa uma grande lacuna para o público consumidor de música.

Por incrível que hoje isso possa parecer , as gravadoras em outros tempos já prestaram um relevante serviço para a música. O serviço que em outras artes se chama curadoria. Era nos departamentos artísticos de gravadoras que se fazia curadoria de música popular.
Mais do que o compromisso de investimento de uma empresa, assinar contrato com uma gravadora significava para um artista novo a aprovação do seu trabalho por alguém que entendia do mercado de música. O contrato com a gravadora abria as portas da mídia , mobilizava os empresários, era uma senha para ser levado à sério.

Com a democratização da gravação digital, mais do que nunca artistas precisam da validação de um curador para se destacar do meio da multidão de uma produção desenfreada.
Hoje temos blogs, redes sociais , serviços de "streaming", uma série infindável e crescente de meios de ouvir música, mas a questão é :

Quem vai dizer ao público o que merece ser ouvido?


saudações musicais,
Beni"

Acho que, além de agradecer ao Beni por utilizar seu tempo pensando e escrevendo sobre um assunto tão importante para todos nós que amamos música, algumas coisas merecem ser acrescentadas:

1) que as gravadoras realmente estão perdidas - como todo mundo -, mas são conservadoras porque ainda têm algo a perder. Embora, cada vez menos;

2) que o tal do Douglas Merril não apresentou nada de novo nesse tempo todo e tinha um salário de jogador do Barcelona antes da crise;

3) que as gravadoras, pelo menos no Brasil, estão de olho é no mercado de celulares e não nos shows, mas eu acho que cobrar - mesmo nesse mundo mais controlado - vai ser cada vez mais difícil;

4) que a tal curadoria é realmente a maior mudança que estamos enfrentando em termos de impacto junto ao público. Os filtros ainda são muito incipientes e são muitos. Atingir o grande público vai ser uma coisa cada vez mais difícil. O negócio é conseguir um público fiel e trabalhar para ele, por menor que seja;

5) que eu queria ouvir vocês e começar um diálogo com o Beni

20 comentários:

  1. Olha aí o final hemorrágico que eu disse em outro tópico!

    Já temos algo bem evidente: o artista, vai ser dono de TODO o processo da sua música, desde a criação da obra no seu íntimo até a criação do fonograma, seja lá qual for o formato. Os artistas consagrados já seguem além, tendo seu próprio selo, acessoria de imprensa, acessoria de shows, todo o elo entre ele e o público.

    Agora, com uma demanda cada vez maior de novos artistas/músicas,
    resta saber como tanta informação vai ser absorvida. Creio que aquele sonho de assinar com uma gravadora vai ser substituído pelo sonho de acesso aos grandes meios de informação.

    Bem, sejá lá qual for o rumo disso, o boca-a-boca sempre vai existir e todos de alguma forma terão chances de um lugar ao sol.

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  2. Geovanni, o que serão os "grandes meios de informação"? Os jornais estão acabando, as rádios fechando e as TVs perdendo público.

    Acho que shows e contato direto via internet serão as grandes armas. Mas a internet tem que oferecer uma possibilidade de filtros mais eficientes e interessantes.

    Mais importante que vender é chamar a atenção. Se a atençnao conseguida for bastante, aí pode-se pensar em cobrar. A cabine do pedágio tem que ficar bem mais na frente da estrada.

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  3. Referi-me a estes meios que você disse, mas olha só que interessante: assim como o formato físico da música está findando, o mesmo acontece com os meios da informação. Não acompanho mais notícias na TV e nem no papel, está tudo aqui. Programas de entretenimento, cada vez menos - parece que o YouTube está para a TV assim como o mp3 para o CD -, toda a informação, prática ou não (artes) estão seguindo esse caminho. Isso é maravilhoso, mas ao mesmo tempo assustador porque estamos exatamente no momento da virada. Voltando ao assunto música, vamos pegar como o exemplo o MySpace. As gravadoras parece que fizeram amizade $$$$ com os "Spacemasters", e tomaram as rédeas de um espaço que deveria ser democrático mas não é. Muitos artistas majors tem um maior espaço para músicas no MySpacePlayer. É uma bobagem, tudo bem, mas parece que essa mesma guerra travada no mundo real, irá pro virtual.

    Bem, já tenho outras idéias sobre o assunto, mas é melhor discutir em outro momento! Isso aqui já deixou de ser um comentário!

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  4. Geovanni, se quiser me passar um e-mail com as suas idéias eu posso publicar aqui para discussão, assim como fiz com esse do Beni.
    Fique à vontade para me contactar em leoni.rio@gmail.com

    Abs

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  5. Pois é,"Quem vai dizer ao público o que merece ser ouvido?" Essa é uma das milhares de questões sem resposta no momento, uma coisa é fato, vivemos um momento de transição e os filtros não estão estabelecidos como antigamente, ou melhor, quais serão os filtros? O mercado de hits cedendo espaço pro mercado de nichos e uma uma infinidade de mudanças ocorrendo à velocidade da luz. Ontem a noite eu estava jantando com o Jean Dolabella, baterista do Sepultura, e estávamos conversando sobre esse momento de transição, e ele me disse as majors lá fora tem um poder muito grande, muito mais do que aqui no Brasil. E que algumas empresas estão criando um modelo de patrocínio parecido com o dos jogadores de futebol, não fomos muito a fundo no assunto, mas depois vou perguntar ele como funciona isso na forma prática.

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  6. Ok Leoni, obrigado. Isso vai melhorar nosso fluxo de discussões já que esse e outros assuntos prometem MUITO. Tomara que um dia este espaço se torne ainda mais popular e outros artistas renomados como você opinem. Vamos alcançar idéias fantásticas, sinto isso. Tentarei organizar e enxugar as minhas idéias. Abração a todos.

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  7. Baixei todos os livros. Bem... daqui a um mês volto ao convívio social. :)

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  8. Bom vamos lá , que é muita coisa:

    Primeiro respondendo aos adendos do Leoni :

    Primeiro sobre o Mr. Merrill e a EMI:

    Não sou tão ingênuo a ponto de de me entusiasmar só porque a EMI contrata um cara da Google. O Mr. Merrill era o CIO da Google (Chief Information Officer) - um tech-head de primeiríssima.

    Antes dele ter sido contratado o Guy Hands , que era o CEO do Terra Firma, fundo de investimento que comprou a EMI em meados de 07 , dizia que a EMI seria a líder na transição para o digital, e não só disse como começou a fazer , sendo a EMI a primeira major a vender música sem DRM.

    Então minha esperança no Mr. Merrill, não era tão gratuita assim.

    Certamente o Mr. Merrill não foi prá EMI por dinheiro, já que ele é multimilionário , tendo sido um dos primeiros funcionários da Google e recebido milhares de opções de ações na época em que elas não valiam nada.

    Com certeza ele foi prá EMI pelas razões que deu na ocasião: porque gosta de música e de desafios tecnológicos e se frustrou,porque ambas as coisas não são muito populares em gravadoras nos dias que correm.

    Sobre gravadoras e shows:

    As gravadoras estão SIM botando muitas fichas no mercado de shows. A Sony tem uma nova empresa a DayOne dedicada a empresariamento de artistas , e no seu cast eles contam ,entre outros, com a dupla sensação do momento o Vitor & Léo.
    A Warner também faz esforço nesse sentido e é (ou era até pouco tempo) a empresária da Maria Rita , e fizeram muita força prá ser do Rappa.

    A Universal está assinando contratos que incluem agenciamento de shows com todos os seus artistas novos.

    Mesmo a EMI , que no começo dizia que não ia entrar nesse ramo,anunciou a pouco a criação de uma área de Music Services, ainda não implementada aqui, que pretende oferecer serviços de empresariamento aos artistas.

    Sobre a Venda de música para celulares:

    A visão hoje das gravadoras é que isso é passado. As vendas de música estabilizaram ,ou são decrescentes em todos os principais mercados. A mais ousada iniciativa de música embarcada a "Comes with Music" da Universal com a Nokia fracassou.

    ("Comes with music" era um celular da Nokia que custava mais caro e vinha com acesso a todo o catálogo da Universal , é ainda vendido no Reino Unido, mas os planos de expansão global do serviço foram arquivadoos)

    Com o rápido crescimento do padrão 3G, de acelerado acesso a Internet, a esperança de que esse mercado seja uma fonte importante de receita, hoje reside nos serviços de streaming pagos tipo Spotify ou Pandora (ambos indisponíveis no Brasil por enquanto)

    Sobre a bateção de cabeça das gravadoras:

    Com certeza está todo mundo perdido, mas a minha tese é que as majors já estão condenadas a marginalização na Musica 2.0.

    A saída do Mr. Merrill foi só a gota dágua que transborda o copo , para alguém como eu que ainda insistia em acreditar que num certo momento as gravadoras abririam os olhos e fariam um movimento concertado entra elas de migração para o digital.

    Pode até ser que isso ainda aconteça, que elas finalmente se acertem entre elas e migrem todos juntos para uma plataforma digital com música all-you-can-eat por um pagamento mensal.
    Mas do jeito que a coisa está indo isso não será decidido por elas ,mas forçado goela à baixo por uma regulamentação governamental, como já está sendo ameaçado no Reino Unido e já foi feito na Noruega.

    De qualquer forma , com o poder econômico delas se reduzindo todo dia, é muito provável que as empresas grandes de música no futuro sejam as grandes promotoras de show , tipo Live Nation ( que já tem a Madonna ) nos EUA e as TimeforFun da vida no Brasil... aliás a consolidação desse setor já está acontecendo aqui e provávelmente em pouco tempo o Leoni estará assinando contrato com uma delas , ao invés de assinar contratos com distribuidoras de discos.

    O Geovanni falou uma coisa essencial , sobre a qual eu pretendo escrever mais detalhadamente no futuro, que é o fato de que o artista hoje , não tem nenhum motivo para não ser o dono da sua obra , o que transforma completamente o negócio das gravadoras.

    Se as majors são donas da maior parte do catálogo de música com valor econômico até o final do século passado, de lá prá cáuma parte cada vez maior das gravaçãoes de música é de propriedade dos seus autores, o que nos leva ao poder crescente das independentes , contraditando o que o Jean Dolabella disse para o Áureo.

    ufa.... era isso ,por enquanto...

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  9. Beni, muito obrigado pela resposta tão detalhada. Acho que isso é que vai fazer desse blog um espaço para reflexão e troca de idéias.

    Posso ter me precipitado quando falei das gravadoras em geral, só tenho proximidade real com as pessoas na EMI. E é por isso que sei da decepção deles com "o homem do Google". Durante muito tempo eu ouvi que eles estavam esperando alguma novidade - e que ela não veio. Não sei mesmo muito das outras, mas o entusiasmo com a telefonia na EMI é enorme.

    Tem um celular que será lançado em breve com 2 milhões de músicas para serem baixadas gratuitamente nos primeiros meses de utilização e, depois, para serem ouvidas em streaming que é o assunto por lá.

    Estão muito mais interessados em telefonia que em internet, até pelo tamanho da base. Mas não acredito em venda, mas em serviço - como você bem colocou acima. Não sei o que eles estão pensando.

    Não sei se teremos mutas empresas independentes, mas cada artista deve ser independente no futuro por conta da facilidade que a rede trouxe em se contatar direto com o seu público.

    Quanto aos shows, fora a Sony, eles mais falam que fazem. Até porque não sabem o que fazer.

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  10. A triste competição acabou ficando entre músicas de catálogo X músicas inéditas. Pessoas jurídicas ( que detêm os catálogos) X Pessoas físicas ( que compõem e que passam a deter seus próprios direitos) para que lado a balança pesa? Fica bem claro porque estamos condenados a ouvirmos regravações releituras, programas e coletâneas o melhor dos anos 70, 80, 90. É o nascimento de uma cultura onde vamos a um show para cantar o que já conhecemos e baixamos músicas que tanto conhecemos que temos que ter em nossos catálogos pessoais. Aliás o ato de daunlodear é bem conservador no sentido de não nos deparamos mais nem com uma capa maneira que nos desperte a curiosidade ou o paladar.
    Muito mais preocupante do que se poderemos ou não voltar a viver razoavelmente de música é : Que música será essa ? A cultura musical popular está andando em círculos enquanto tentamos achar uma solução. Se não temos mais como atingir o grande público é bem possível que as empresas especializadas em fonogramas (gravadoras) encontrem seu bem estar mesmo em discursos mais populistas do que os nossos, como nas religiões ou até mesmo o jornalismo.
    Já pensou? O melhor de Jornal nacional ...um lançamento Som Livre...porque os padres já estão “crentes que estão abafando”.

    Here we GO!
    O turbilhão é tão louco que dá vontade de sentar e esperar passar um pouco...mas a vida é uma só né?
    Na verdade,... de música todos parecem concordar que estamos bem servidos, o que faria dinheiro para ser usado em mais produção de música mesmo seria um produto HIIPE, uma guloseima que você não deixaria descansar em nenhuma prateleira, principalmente se visse um amigo ou amiga seu (sua) com aquela preciosidade andando no meio da rua com cara de "Vou para casa abrir isso e ouvir essa Jóia". Nesse sentido entendo a tentativa de volta do Vinil. É lindo, tão lindo quanto um Ipod novinho e tem a vantagem da música já estar lá e de você não precisar dar uma primeira carga na bateria (como chegamos a isso?). Concordo que a praticidade e capacidade de armazenamento sejam a moeda corrente, (mesmo se estando ciente de que “dois milhões de músicas nos primeiros meses de um celular”?#$% chega a deixar com azia os melhore organismos só de pensar) mas ...se houvesse um produto MANEIRO, BACANÃO, IRRESISTÍVEL e LINDO com o qual você certamente se identificasse , então esse produto varreria o mercado e começaria uma nova história.

    Queria alguma beleza ligada a música..Ela afinal merece mais que um tabletinho branco que pode ser encontrado nas versões verde metálico, Grafite........

    Abçs

    Humberto Barros

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  11. Celular pode vir com todas as músicas gravadas até hoje... continuará sendo música amarrada a um produto físico. Ora, se o que está acabando é a matriz física, que diabos eles estão pensando?! O My"panelinha"Space estava com um anúncio enorme de um celular com o disco do U2. E aí? Quem vai comprar um celular por causa do disco novo do U2? Isso existe?

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  12. A gente aqui tergiversando sobre as bobagens circuntaciais e o Humberto como sempre vai direto ao essencial : E a experiência da música, como fica?

    Toda essa tecnologia na verdade é muito prática,etc e tal..mas ela por enquanto só fez piorar a experiência de ouvir música, isso é que explica o saudosismo do vinil.

    Embora seja impossível separar a memória da sensação. Eu tenho motivos reais e físicos para acreditar que ouvir um LP ,amplificado por válvulas , com caixas de som mastodônicas , ainda é a melhor experiência de ouvir música que eu tive.

    Música não é bits,bytes,sulcos,impulsos elétricos ou notas numa pauta, música é ar em movimento.. e aquelas caixonas com seus alto-falantes gigantes , movem muito mais ar que qualquer dos diversos meios de reprodução de música que a gente costuma usar hoje.

    E acho que essa degradação da qualidade física da experiência da reprodução musical, está diretamente relacionada a dificuldade que temos de hoje de vender o peixe de qualquer música que seja mais do que papel de parede aural.

    Claro que nada disso se aplica ao Radiohead , que nos deu por esses dias, com a valiosa colaboração do Krafwerk , uma bela prova de como a música de verdade , acaba vencendo todas essas questões.

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  13. Minhas melhores lembranças da experiência da música vêm 1) de estar sozinho, deitado no sofá, degustando LPs, sejam da coleção dos meus pais sejam discos recém-descobertos, com o som saindo de caixas Lando numa sala acusticamente preparada; 2) Rock'roll na casa dos amigos, som alto, onde ouvir e falar sobre música era a atividade principal; 3) no mesmo sofá do item 1, com o tape deck preparado para gravar músicas do rádio. 4)Ao vivo.

    Hoje em dia, por experiência própria mas principalmente por observação, música é cada vez mais uma trilha sonora da vida do que algo relacionado a um momento especial. Isso por causa da ubiquidade da música proprcionada pela tecnologia. Os moleques de 20 e poucos anos que trabalham comigo ouvem de headphone no i-tunes enquanto estão trabalhando em algum projeto, falando no MSN e respondendo e-mails, tudo ao mesmo tempo. Os "classe C" que eu vejo no metrô também têm seu mp3 player e no lazer devem ouvir seu funk e pagode nas churrascadas da vida.

    Por outro lado, eu mesmo tenho uma aparelhagem de som razoável e até um headphone profissa, mas quase não tenho oportunidade de me dedicar parar para ouvir. Às vezes tarde da noite, lendo um livro.

    E daí levantar essa história de música como trilha sonora cotidiana?

    É que, paradoxalmente às possibilidades da evolução tecnológica, essa é a razão principal da qualidade da reprodução ter ficado em segundo plano. Disponibilidade e portabilidade são o que vem em primeiro lugar. Ao menos por enquanto, pois a tecnologia avança a passos de gigante. O Blue Ray e uma banda mais larga ainda estão aí dobrando a esquina.

    Uma das consequências disso é que as apresentações ao vivo voltam a se firmar como a maior experiência sonora, única, total.

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  14. Humberto, são tempos mesmo muito estranhos.

    Esse produto "maneiro, bacanão, irresistível e lindo", nos moldes que você imagina, possivelmente nunca chegará.

    Ou, pensando de uma forma diferente, chegou: o I-Pod! É um marco da história do design, formas puras, simples, intuitivo e que suporta uma discoteca inteira. Tenho afeição pelo meu, branco e já velhinho, de 60Gb, que me deu muitas alegrias. É uma beleza diferente para uma época diferente.

    Mas entendo o que você quer dizer quando se refere às capas de outrora. Ainda tenho meus vinis e às vezes paro tudo para admirar alguma que tenha me despertado alguma lembrança. Se música é formada de vibrações no ar, as capas são um FETICHE, ou seja, atribuem a um objeto (música) qualidades que não lhe são inerentes. Ajudam de certa forma a concretizar algo que é feito de ar. LPs e CDs tem forma, peso e até cheiro.

    Mas esses invólucros não são mais o suporte PRINCIPAL da música, definitivamente digitalizada e infinitamente reprodutível, intercambiável em diversos gadgets. No entanto, não quer dizer que a fetichização da música não seja mais possível.

    O Radiohead é o caso mais conhecido. Liberou as faixas do último álbum num MP3 mequetrefe, mas cobrou uma baba por uma caixa belíssima, cheia de fotos e textos, que tinha ATÉ um CD com músicas, veja só.

    Mas dá pra imaginar outras formas. Um livro de fotos incríveis que vem com um CD ou um código para baixar as músicas lossless. Uma edição especial de luxo distribuída apenas nos shows. Coisas ou misturas ainda não imaginadas.

    Ou seja, talvez uma saída seja não vender a música em si, mas a proximidade com o artista, seja ele em pessoa ou na forma de objetos-fetiche exclusivos, "raros".

    Vale lembrar também que o LP (assim como o CD) é um formato ligado a um tempo histórico muito curto (50 anos), proporcionado por causas econômicas e tecnológicas. Queiramos ou não, os moleques que já cresceram na era da internet tem uma outra sensibilidade e uma forma diferente de sorver a música, mesmo os mais aficcionados.

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  15. Opa Marcelo, lá vamos nós .........não pretendo tomar um partido nessa questão, ou melhor não pretendia. O problema é que já comecei...e que amo essa questáo, logo o que tenho a dizer é um lamento, infelismente. Sou enlouquecido (como poucos que eu mesmo conheça) pela experiência de ouvir música somente superada pela experência de fazer música (imagino que você também ou não estariamos aqui certo?). Well ...se um I Pod é táo lindo quanto um disco, entáo acabou mesmo, a tal da música não interessa mesmo a mais ninguém, o prazer passa a ser o tato e o movimento de compra. O que não desqualifica nenhuma dessas atividades como reais formas de prazer, só sai da minha jurisprudência. Também gosto de tecnologia, mas não vejo porquê colocar esse meu gosto nesse texto sobre música.
    Mas o que é mais grave mesmo é que você diz a verdade a pura verdade nua e crua, o interesse é realmente outro agora. Viví esse tempo em que a música era a nossa cachaça, a nossa psicanalista sexy, a gata que nos deixava com vontade de chegar em casa e se prostar derretido no sofá diante do aparelho de som. Mas agora me parece que a música é apenas um refrigerantezin ou a recepsionista do consultório dentário mandando você aguardar (no sofá deles lá) porque vai dar uma atrasada.
    Espero que entre outra coisa tão legal quanto no lugar da nossa amiga porque se não vamos mesmo é ter uma humanidade mais neurótica do que já vem sendo. E quando chegarmos mais na frente algum estudioso vai descobrir realmente qual era a função dela em nosso agrupamento sócio-crazy-people (com todos os iféns que também caíram..e esse acento aí também).
    Mais uma última coisa....Você tem filhos? Se tiver vai notar que quando eles realmente gostam de um artista eles nos pedem para comprar o CD. Essa é a proximidade com o artista. Aliás quem deveria ditar isso são os artistas , não eu mas os ícones. Assim como o Radiohead decide o que fazer, o que entregar e não o Steve (Jobs). O produto fofo ao contrério do que se pensa vai sempre existir Marcelo, o que sugiro sempre é que ele possa ser usado para o nosso lado novamente um produto fofo e musical mais legal do que o Ipop...isso é tudo do que precisamos, simplesmente isso.

    Manda lá!!
    abçsacalorados

    Humberto

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  16. Olá Humberto,

    Veja, minha relação com a música é bem próxima da sua (embora eu não seja músico profissional, apesar de uma certa educação na área). Eu prezo muito isso. Daí estar igualmente atônito com as mudanças em curso, hoje, na experiência musical.

    Só que meu texto não foi um lamento, como o seu, nem o elogio do Admirável Mundo Novo. Foi apenas a constatação de uma situação. Por temperamento, não sou nem apocalíptico nem integrado. Muita coisa está se perdendo, mas outras portas estão se abrindo. São essas portas é que cabe a quem ama e/ou trabalha com música descobrir.

    Não adianta mais pensar em CD ou LP como o principal produto, nem por onde o artista será remunerado. Já não é assim. Queiramos ou não queiramos. Entendo seu apego pelas bolachas, pois elas adicionam uma outra camada de significado “material” à música. Mas é bom lembrar que eles não são “a” música. A humanidade viveu milênios sem elas.

    E o I-Pod, coitadinho, não é o culpado. Para mim, ele é neutro. Você pode fazer mil usos dele, para “bem” ou para “mal”. Com ele, você pode se prostrar derretido no sofá da mesma forma. Pode dar uma festa com ele. Pode levar seus discos prediletos para Terê e desta forma se prostrar no sofá do sítio, em frente à lareira, entregue à mais sublime experiência. Só que muito nego hoje não preza esse hábito, e isso é um problema mais amplo e anterior a este post.

    Ao falar do Radiohead, você tocou no ponto. Se posicionaram usando a favor deles os recursos e a lógica de hoje e tiveram sucesso. Inclusive o I-Pod! Botaram os MP3 a leilão e valorizaram/fetichizaram o produto físico, vendido a peso de ouro (Seria o “produto fofo e musical” a que você se referiu?). Fizeram dinheiro, se popularizaram ainda mais e reforçaram sua aura de banda inovadora. Cabe a cada um - e coletivamente - pensar o que lhe é mais adequado.

    No mais, posicione-se, sempre. O valor desse espaço é justamente isso.

    Grande abraço,
    Marcelo

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  17. Marcelo, my brou isto está ficando bom, espero que para quem esteja acompanhando também: primeiramente vi dois enganos para a errata -infelizmente & recepcionista - saíram errados no meu texto anterior.
    Juro que nesse post encerro aqui.
    O produto "fofo" definitivamente não é o que o Radiohead ofereceu, o produto fofo é o Radiohead. Veja o produto interessante é algo que você simplesmente tem que ter. Você ouve falar e já fica de antenas ligadas (em outras áreas isso continua rolando o tempo inteiro e nessa nossa área costumava também). Tudo que já estava estabelecido antes da música online virar uma realidade permanecerá bem. Não deveríamos, de forma alguma estar falando de Radiohead aqui. Eles não tem problemas...eles inclusive devem estar vivendo uma de suas melhores fases em anos, assim como,, sei lá o Nine Inch Nails o Eric Clapton o Bowie , Os Beatles, o Who... Estamos mais do que nunca...mais do que nunca numa fase de celebridades no topo. Como meu caríssimo Beni já disse uma vez o que acabou foi a classe média da música.
    Acho que o CD foi o começo do fim, jamais me apegaria a algo como o CD e acho que a música popular realmente vai continuar necessitando de um suporte visual, não é fetiche....aliás pode até ser fetiche, mas afinal a música pop também é. O fato é que demos muitos passos para trás em prol de armazenamento X levar esse super armazenamento para Terê (praticidade). 1-O som desse treco (MP3) alto é uma ...pasta, 2-o fim do Álbum é uma perda e tanto, 3-o contato com o que o artista queria propor se reduziu muito. Me parece que é o que dá para ser e não algo mais legal como a evolução das coisas deveria seguir. Os moleques hoje podem se divertir tanto ou mais que a gente, mas não é com música. Essas novas plataformas de tabletes que cabem no bolso só servem para comprovar a falta de relevância que esse produto tem hoje. Música.
    Agora o gran finale. Sabe porque eu falo do Vinil o... é o pretão grandão?...porque eu vi uns na loja Tracks, uns de 2008 e 2009 Do Raconteurs e do Belle e Sebastian e vou te dizer, rapaz tem uma magia ali. Em muitos anos eu não tive realmente vontade de comprar alguma coisa meeesmo o negócio tem uma magia ali. OK você vai dizer ..é mas as novas gerações... e eu te diria....sei não...e eles te diriam.... a parada é sinistra, se eu tivesse um toca discos.com agulha...dinheiro já teria sido derramado naquele instante ali mesmo.
    Câmbio desligo.

    Abcs

    Humberto.

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  18. Humberto, O Revoltado, Barros,
    você é o mais aguerrido paricipante do músicalíquida e merece sempre a nossa atenção.

    Ninguém aqui prefere o mp3 em detrimento do vinil como experiência musical. Eu já escrevi vários blogs no meu site sobre a experiência de abrir um disco novo e viajar com ele no escuro do quarto. Ou das tardes em que vários amigos se reuniam para ouvir o último disco do Led Zeppelin ou do Weather Report - não é, Beni? - que um de nós tinha comprado.

    A coisa começou a degringolar com o CD que é muito mais fajuto como produto. E cotinuou a descer a ladeira porque as pessoas não têm mais a música como guia, como algo tão importante quanto era para nós. Além disso, todo mundo tem muito menos tempo que antes para contemplar - seja uma paisagem ou uma obra de arte. Ouvir um álbum era uma atividade, não havia nada de passivo nisso. Às vezes não gostávamos de algo na primeira audição, mas insistíamos, relíamos a letra, nos concentrávamos numa linha de baixo ou num solo e íamos digerindo aos pouco, saboreando.
    A garotada ouve o iPod com um fone só, teclando no MSN e vendo TV sem som...

    São outros tempos. Mas o que não dá para fazer é se apegar ao passado e dizer que não queria que as coisas mudassem. Elas já mudaram e não dá para fazer muito a respeito. Temos é que descobrir que oportunidades esse período louco nos traz. Vou colocar um texto do Hypebot só para ilustrar meu ponto de vista:

    No, I'm not going to start charging for Hypebot. I'm calling this The Last FREE Week On Hypebot because I want this to be the last time that we debate whether or not music should sometimes, in fact quite often, should be free.

    Para saber mais: http://www.hypebot.com/hypebot/2009/03/hypebots-last-free-week.html

    A post I wrote "Understanding The Value Of Free" reminding musicians to utilize the power of free started the heated discussion. And a follow-up post "Why Are We Still Debating Free?" continued the debate. I encourage you to join in.

    But in actuality, the debate is over. As someone who has worked in this business all of my life, I appreciate fully the sweat that goes into making and marketing music. I can even say that I mostly align myself with folks that believe that it downright sucks that people stopped paying for music. But as Wired's Chris Anderson said at SXSW:

    "I'm not telling the apple to fall -
    I'm just telling that the apple will fall.
    That is what the laws of digital economics require
    ...you either compete with free or use free...".

    Like it or not, most of the apples have already fallen off the music industry tree. And all this week on Hypebot, we'll explore various theories of free and how artists and labels can use free to make money.

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  19. Por falar em Wheater Report, download de vários discos dos caras..hahaha, resolvi juntar Leoni, a década de 70 com os dias de HJ.http://www.grammy.ru/music/mcatalog.php?act=list&singer=Weather+Report&lang=eng

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  20. Acredito que a Ipodópolis é um fato, e sem poder resgatar o passado, o jeito é conviver com isso e encontrar a melhor forma.

    "A garotada ouve o iPod com um fone só, teclando no MSN e vendo TV sem som..."

    Isso é verdade. E cada dia mais as pessoas dão menos valor aos cds e lps, e por mais que nós olhemos além disso, a realidade é outra. Não é de hoje que tem músicos por aí falando que o que rende é o lucro do show e cds são apenas um modo de divulgação, mas no mundo digital seria uma forma inovada e de atrair olhares pra que tudo isso acontecesse.
    Repeti tudo o que foi dito antes nos vários posts, e acho mesmo que as gravadoras só vão se adaptar na marra, quando não tiverem nada a perder, ainda que não tenham tanto. Acho que uma adaptação agora seria uma novidade e inovação que atrairia olhares, mas há toda a questão de não trocar o certo pelo duvidoso. Só se esquecem de que mais cedo ou mais tarde isso vai ter que acontecer. E nem comento do rumo dos músicos, não faço a mínima idéia do que está por vir.. E que cada um encontre o caminho melhor pra si.

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