16 de dez. de 2009

Por que estamos escrevendo menos? Tempos interessantes?



As ideias se derramam pela rede - e se repetem

Quem acompanha nosso blog desde o começo deve ter percebido que os posts já foram muito mais freqüentes. Foram 80 textos e vídeos nos primeiros 5 meses, contra apenas 29 nos 5 meses seguintes. Ficamos mais preguiçosos? Mais ocupados? Também, mas o principal motivo é a falta de ideias novas no ar.

Quando começamos o Música Líquida, quase não havia informação disponível em português sobre os rumos do negócio da música. Saímos coletando tudo que já tínhamos lido e tudo que encontrávamos pelo caminho. Com o Twitter, repentinamente, todo mundo tinha acesso a links do mundo inteiro e a informação começou a fluir mais abundantemente das torneiras virtuais de nossos computadores. Outros sites e blogs começaram a prestar o tipo de serviço que vínhamos oferecendo. E acho que fomos bastante importantes nesse movimento.


O Lugar-Comum

De repente, termos como “monetização”, “receitas”, “freemium”, “economia da atenção” e diversos outros, se tornaram quase uma praga, de tão constantes. Em diversas situações eu ouvi “especialistas” dizendo que está tudo resolvido: se você entrar em contato com o fã, tiver seus perfis nas redes sociais, der músicas, tiver um bom show e criar um vídeo viral – como se isso fosse algo simples de fazer -, sua carreira está muito bem encaminhada. Ei, eu tenho feito tudo direitinho e sei que os resultados são bem menores e mais lentos que isso!

É claro que muitas dessas novas ideias ainda não chegaram ao grande público. Ainda é comum ouvir das pessoas por aí que a internet acabou com a música, ou que quem baixa música de graça é pirata. Mas essas pessoas não costumam ler o Música Líquida.




Tudo igual

Acontece que as ideias são as mesmas. Pouca coisa nova está sendo dita. O Gerd Leonhard veio ao Brasil para a Feira da Música e repetiu tudo que eu já tinha ouvido dele em suas palestras disponíveis no YouTube. Seus livros de vários anos atrás continuam atuais. Ou seja, continuam prevendo um futuro que ainda não virou presente. E a mesma pergunta ficou sem resposta: qual a nova forma de ganhar dinheiro usando as armas da tecnologia?

É claro que vimos acompanhando as notícias do nosso negócio: a Apple comprou o LaLa e deve iniciar algo relativo à música nas nuvens; as gravadoras criaram um site de vídeos para elas, o VEVO, que deve ser remunerado – como?, ainda não foi dito -; Spotify ganha tração na Europa, mas ainda não chegou aos EUA. Mas não tem rolado nada que nos chame a atenção nem em termos de tecnologia, nem quanto aos resultados. Os cases citados em qualquer palestra são sempre os mesmos: NIN, Corey Smith, Teatro Mágico etc.

Outro dia, via Twitter, o Rick Bonadio disse que em breve a tecnologia impediria o download gratuito e que tudo iria se resolver naturalmente sem necessidade de se dar música. Inclusive afirmou que quem dá música é estúpido. Imagina a confusão que rolou! Ou seja, a indústria continua achando que vai colocar o gênio de volta para dentro da garrafa.


Só quero saber do que pode dar certo

Apesar de parecermos viver num turbilhão de mudanças sociais e tecnológicas, as coisas, para nós que fazemos música, estão mudando muito pouco. O futuro é a solução. Só que o futuro nunca chega. Afinal, só se vive no presente. Por isso, quero concentrar meus textos no que pode ser feito na prática.

É claro que ideias e novidades farão parte do cardápio, afinal nós adoramos esses tempos interessantes. Mas, é minha impressão, ou eles não estão tão interessantes assim?




Mudando o sentido do termo “Alternativo”

Conversando com o Tico Santa Cruz por telefone, por conta do nosso encontro na UFRJ, me deparei com um observador muito lúcido, falando de ações, mais que de conceitos.

Decidimos que o nosso encontro terá por finalidade organizar um festival de grande porte para artistas com ideias iguais às nossas, usando todas as armas que estiverem ao nosso alcance. Não é para ser alternativo no mal sentido - naquele da pequenez e falta de recursos -, mas para ser a alternativa ao que já apodreceu e não serve mais para os dias de hoje, às formas de divulgação usuais, ao jabá, à indústria e à mesmice. Artistas de grande público ajudarão o caminho dos menores. Divulgação coletiva, mistura de estilos, colaboração, serão as bases dessa caminhada.

Nossa conversa será transmitida pela web no http://pontaodaeco.org às 16:00h dessa quinta-feira, 17 de dezembro.

Espero ter muito o que dizer daqui para frente

3 comentários:

  1. Leoni, desconfio que a maioria do público desconheça
    as ideias e previsões abordadas aqui no Música Líquida.

    Acho interessante tentar prever o futuro para evitar a escolha
    de soluções que logo ali na frente enfrentem novos problemas.

    Sobre ações no presente acho que um ponto de partida legal
    seria a reunião do material desses artistas
    num só lugar.

    Que tal?

    O pessoal do software livre poderia ajudar no desenvolvimento
    da plataforma (desktop e móvel), na definição dos padrões do
    banco de dados, enfim, as questões técnicas para viabilizar a
    coisa toda.

    Penso que facilitaria a vida de artistas e do público.

    Do público porque teria num só lugar o conteúdo que hoje
    está espalhado pela Web. Dos artistas porque teriam um
    local com grande audiência para ter seu material publicado, algo meio que "obrigatório".
    A ideia é que um dia essa "rede de música" vire "o ponto de
    encontro".

    ---

    Espero poder assistir no final de semana aos vídeos do encontro.

    ---

    ps: frequentemente leio/ouço que não há muita música boa surgindo hoje em dia. Acho engraçado. A gente não consegue ouvir nem 1% do que se cria e já sai tirando conclusões rs...
    Tem muita música boa, o que não é boa é a ferramenta para se chegar a elas.

    Paulo

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  2. O comentário acima me chamou atenção por tocar num assunto que eu acho crucial: a concentração de um site, um lugar virtual, onde vários artistas poderiam ser "encontrados". Acredito que a dispersão da internet atrapalha que o público tome conhecimento das coisas novas.

    Outro ponto que acho pouco abordado, mas que li numa reportagem de ontem do Jornal A Tarde de slavador/Ba sobre a Feira da Música, e considero tb essencial é a troca de arquivos de música entre as pessoas comuns. Acho até mais importante do que permitir ou proibir downloads. Eu poderei até comprar o cd original, mas logo o passarei para mp3 para poder ouvi-lo através do pen drive, i Pod, i phone, e partir daí essa música vai se multiplicar em progressão de um para outro.

    Antigamente isso era possível com as fitas k7, mas nem de longe era tão fácil qto agora.

    Ressalvo que acredito no produto cd. É um ótimo presente. Adoro gannhar e dar cds, mas a tecnologia obriga que, no mínimo, eles sejam mais baratos. Ass. Hugo

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  3. Paulo e Hugo, concordo com vocês. Concentração de informação é uma idéia que quero sugerir hoje no debate. Talvez possamos usar o site da MPB para agregar os artistas. Talvez tenhamos que criar um outro.

    Quanto a trocar arquivos musicais com os amigos, é isso que realmente divulga um artista. Boca a boca na era da internet é muito mais poderoso do que já foi. No manifesto Música Para Baixar temos o mote "Fã não é pirata, é divulgador".

    Assistam, se puderem, as conversas de hoje - e não deixem de opinar.

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