Foram 134 posts em 10 meses de existência - mais do que um a cada 3 dias. Falamos de novas tecnologias; das mudanças estruturais no mundo da música; das novas estratégias de lançamento, distribuição e marketing; lançamos um e-book e, principalmente, percebemos a informação se disseminando. Já há muito diálogo onde antes havia apenas perplexidade. Tenho certeza de que muita gente já parou de reclamar do novo mundo e começou a se mexer. Acredito que, nesse ano, muito será colhido.
Temos um festival alternativo capitaneado pelo Movimento Música Para Baixar para colocar no ar, muita gente tem criado suas próprias oportunidades e vários artistas já têm colhido frutos com a internet.
No exterior, esperamos pela chegada do Spotify nos EUA para ver o que vai acontecer.
O contrário de esperança não é desespero, é ação. Nada de esperar pelo novo modelo que vai cair do céu! Queremos poder relatar casos bem sucedidos de carreiras 2.0. Escrevam, colaborem, contem suas histórias.
Feliz 2010 para todos nós e muita música para todos os momentos.
31 de dez. de 2009
17 de dez. de 2009
Falar é fácil. Mãos à obra, moçada!
Alguns comentários no Twitter sobre o post de ontem me forçaram a escrever esse novo texto. Quero esclarecer que não estou descontente ou desanimado com a nova cena. O que tem me cansado é tanto discurso para tão pouca mudança de hábitos e atitudes. Tanta inércia.
Tudo bem, temos que nos conectar com os fãs e dar a eles uma razão para comprar o que temos a oferecer. A música gratuita é uma ferramenta de divulgação. A música está deixando de ser um produto para virar um serviço. Já fizemos o nosso dever de casa e aprendemos com os pensadores. Alguns poucos resultados práticos confirmam as teorias.
Mas, falar é fácil. Realizar é muito mais difícil. O próprio Gerd Leonhard admite isso em suas palavras. “Meu trabalho é encontrar novas ideias para os novos tempos. Por sorte, não sou eu quem tem que implementá-las.”
Vamos continuar pensando e pesquisando. Mas essa massa crítica ainda não se tornou uma prática social. Os artistas ainda não se manifestaram a respeito do que está acontecendo no seu universo, nem se mexeram para entrar no novo mundo. E já não podem contar com o antigo.
A maioria dos artistas fica paralisado, esperando que um novo modelo surja do nada, um novo tipo de gravadora 2.0 que resolva os nossos problemas. E isso pode nunca vir a acontecer. Ou demorar tanto que tenhamos que encontrar outra forma de subsistência. Mas preferimos nos lamentar.
Antes que ideias tão boas fiquem velhas e cansadas, sem nunca terem sido experimentadas, vamos à luta.
Tudo que tem se falado até aqui supõe os artistas correndo sozinhos. Acho que o erro está nesse isolamento. Em aceitarmos os pequenos nichos que o novo mundo nos reserva. É hora de nos juntarmos, de colaborarmos, de acabarmos com a segmentação inventada pelos marqueteiros e pôr a mão na massa coletivamente.
Estamos dando um ponta-pé inicial nessa nova postura hoje, 17/12/2009, às 16:00h na UFRJ da Urca. Detalhes no post anterior.
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16 de dez. de 2009
Por que estamos escrevendo menos? Tempos interessantes?
As ideias se derramam pela rede - e se repetem
Quem acompanha nosso blog desde o começo deve ter percebido que os posts já foram muito mais freqüentes. Foram 80 textos e vídeos nos primeiros 5 meses, contra apenas 29 nos 5 meses seguintes. Ficamos mais preguiçosos? Mais ocupados? Também, mas o principal motivo é a falta de ideias novas no ar.
Quando começamos o Música Líquida, quase não havia informação disponível em português sobre os rumos do negócio da música. Saímos coletando tudo que já tínhamos lido e tudo que encontrávamos pelo caminho. Com o Twitter, repentinamente, todo mundo tinha acesso a links do mundo inteiro e a informação começou a fluir mais abundantemente das torneiras virtuais de nossos computadores. Outros sites e blogs começaram a prestar o tipo de serviço que vínhamos oferecendo. E acho que fomos bastante importantes nesse movimento.
O Lugar-Comum
De repente, termos como “monetização”, “receitas”, “freemium”, “economia da atenção” e diversos outros, se tornaram quase uma praga, de tão constantes. Em diversas situações eu ouvi “especialistas” dizendo que está tudo resolvido: se você entrar em contato com o fã, tiver seus perfis nas redes sociais, der músicas, tiver um bom show e criar um vídeo viral – como se isso fosse algo simples de fazer -, sua carreira está muito bem encaminhada. Ei, eu tenho feito tudo direitinho e sei que os resultados são bem menores e mais lentos que isso!
É claro que muitas dessas novas ideias ainda não chegaram ao grande público. Ainda é comum ouvir das pessoas por aí que a internet acabou com a música, ou que quem baixa música de graça é pirata. Mas essas pessoas não costumam ler o Música Líquida.
Tudo igual
Acontece que as ideias são as mesmas. Pouca coisa nova está sendo dita. O Gerd Leonhard veio ao Brasil para a Feira da Música e repetiu tudo que eu já tinha ouvido dele em suas palestras disponíveis no YouTube. Seus livros de vários anos atrás continuam atuais. Ou seja, continuam prevendo um futuro que ainda não virou presente. E a mesma pergunta ficou sem resposta: qual a nova forma de ganhar dinheiro usando as armas da tecnologia?
É claro que vimos acompanhando as notícias do nosso negócio: a Apple comprou o LaLa e deve iniciar algo relativo à música nas nuvens; as gravadoras criaram um site de vídeos para elas, o VEVO, que deve ser remunerado – como?, ainda não foi dito -; Spotify ganha tração na Europa, mas ainda não chegou aos EUA. Mas não tem rolado nada que nos chame a atenção nem em termos de tecnologia, nem quanto aos resultados. Os cases citados em qualquer palestra são sempre os mesmos: NIN, Corey Smith, Teatro Mágico etc.
Outro dia, via Twitter, o Rick Bonadio disse que em breve a tecnologia impediria o download gratuito e que tudo iria se resolver naturalmente sem necessidade de se dar música. Inclusive afirmou que quem dá música é estúpido. Imagina a confusão que rolou! Ou seja, a indústria continua achando que vai colocar o gênio de volta para dentro da garrafa.
Só quero saber do que pode dar certo
Apesar de parecermos viver num turbilhão de mudanças sociais e tecnológicas, as coisas, para nós que fazemos música, estão mudando muito pouco. O futuro é a solução. Só que o futuro nunca chega. Afinal, só se vive no presente. Por isso, quero concentrar meus textos no que pode ser feito na prática.
É claro que ideias e novidades farão parte do cardápio, afinal nós adoramos esses tempos interessantes. Mas, é minha impressão, ou eles não estão tão interessantes assim?
Mudando o sentido do termo “Alternativo”
Conversando com o Tico Santa Cruz por telefone, por conta do nosso encontro na UFRJ, me deparei com um observador muito lúcido, falando de ações, mais que de conceitos.
Decidimos que o nosso encontro terá por finalidade organizar um festival de grande porte para artistas com ideias iguais às nossas, usando todas as armas que estiverem ao nosso alcance. Não é para ser alternativo no mal sentido - naquele da pequenez e falta de recursos -, mas para ser a alternativa ao que já apodreceu e não serve mais para os dias de hoje, às formas de divulgação usuais, ao jabá, à indústria e à mesmice. Artistas de grande público ajudarão o caminho dos menores. Divulgação coletiva, mistura de estilos, colaboração, serão as bases dessa caminhada.
Nossa conversa será transmitida pela web no http://pontaodaeco.org às 16:00h dessa quinta-feira, 17 de dezembro.
Espero ter muito o que dizer daqui para frente
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13 de dez. de 2009
Gerd "Media Fururist" Leonhard em Recife
Vejam só. O Gerd Leonhard não só se apresentou em Recife na Feira Música Brasil como disponibilizou em seu site a apresentação feita especialmente para o evento - e que nós "embedamos" aqui.
Ele bota fé na importância do Brasil na criação de novos modelos de negócio para a música e cita a célebre frase de Clair Shirky: "A revolution doesn't happen when a society adopts new tools. It happens when a society adopts new behaviors" – se bem que para adotar novos comportamentos, muitas vezes só seja possível após o surgimento de novas tecnologias, não é mesmo?
Aproveito para mostrar com uma pontinha de orgulho e imodéstia a identidade da Feira, criada pelo meu escritório de design, a Tecnopop.
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11 de dez. de 2009
Criando uma nova cena musical alternativa
Estou ajudando a organizar um debate, ou melhor, um diálogo sobre a criação de uma nova cena musical alternativa. "Alternativa" deixou de ser uma expressão para designar o que não alcançou a grande mídia para recuperar seu sentido de “outra solução”, “outro caminho”. Talvez a grande resposta quando se está sem caminhos.
Pensando grande, vamos nos reunir, Tico Santa Cruz, O Teatro Mágico, For Fun, Bruno Levinson da MPB FM e alguns outros artistas, pensadores e produtores e imaginar formas de juntar esforços e públicos, independente dos estilos musicais e criar festivais e outros eventos que chamem a atenção de forma mais impactante.
Todo o diálogo será transmitido via internet. O encontro será na quinta-feira, às 16:00h na UFRJ da Urca. Vejam os detalhes:
“Diálogo: Como construir uma cena da música independente sustentável?
A partir da afirmação, "Um mundo acabou. Viva o mundo novo!" presente no manifesto música para baixar, é que devemos refletir, aprofundar e projetar uma nova cena da música independente no Brasil, que se adapte às novas tecnologias e reúna criadores, produtores e usuários da música, com disposição e atitude para coletivamente construir novos modelos de negócios viáveis e sustentáveis para os tempos em que vivemos.
As ideias que apoiamos necessitam de tempo para se disseminar, e nós, que vivemos de música, não podemos esperar de braços cruzados enquanto a indústria e as leis não se adaptam à nova realidade. Baseados nos preceitos do movimento Música Para Baixar, temos que criar, hoje, uma cena alternativa. Como o antigo sistema ruiu e não funciona mais para ninguém, sejamos os criadores da nova realidade, os líderes da viagem ao novo mundo, a alternativa real. A tecnologia nos deu as ferramentas necessárias para essa tarefa, que, cada vez menos, necessita de intermediários entre artistas e público. Temos feito isso sozinhos. Agora, vamos fazê-lo juntos.
Vamos reunir ideias de artistas, produtores, consumidores e pensadores para formar novos públicos e oferecer outras formas de criação e consumo de música. Queremos fortalecer uma nova cena que seja economicamente sustentável para se contrapor ao modelo que recebemos.
Para esse diálogo estão convidados:
- Leoni / Movimento MPB
- Tico Santa Cruz / Detonautas
- Fernando Anitelli / Movimento MPB / Teatro Mágico
- Everton Rodrigues / Movimento MPB, Software Livre / Teatro Mágico
- Marcos Sketch / Forfun
- Adriano Belisário - Pontão de Cultura ECO/UFRJ
- Bruno Levinson / Rádio MPB fm
- Walter Abreu - Showlivre.com
Mediação: Professora Ivana Bentes, Diretora ECO/UFRJ
Data: 17 de dezembro
Horário: 16h
Endereço: Av. Venceslau Bras, n° 71, Fundos - Botafogo. Escola de Comunicação da UFRJ - Campus Praia Vermelha - Mapa - http://pontaodaeco.org/como-chegar
O evento é aberto para todos os interessados
Transmissão ao vivo (streaming) - pontaodaeco.org
Realização: Movimento Música para Baixar
Apoio: Pontão de Cultura ECO/UFRJ”
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8 de dez. de 2009
Pirataria 2.0
Deu no Webinsider em 3 de dezembro mais um bom artigo do Paulo Rebêlo. Para aprofundar o tema, sugiro seguir os links presentes ao longo do texto.
***
Você não paga pelo produto original, mas vai pagar pelo download ilegal. É a lei do mercado aplicada à risca pela indústria e pelos piratas.
Por Paulo Rebêlo
Passados dez anos do emblemático caso Napster vs Metallica, a indústria de entretenimento mirou onde viu e acertou onde não viu.
Pirataria 2.0 é quando você não se importa mais em pagar para ter acesso privilegiado (e ilegal) a todo tipo de conteúdo: filmes, música, pornografia, seriados, desenho animado, livros.
Conteúdo que até agora você sempre teve de graça. E em apenas uma fração de minuto pela conexão banda larga.
É extensa a lista dos sites que foram fechados e das tecnologias que desapareceram nesse intervalo de tempo. O golpe de misericórdia veio agora, final de 2009.
Após uma longa jornada de batalhas judiciais, conseguiram fechar ou intimidar sites outrora considerados imunes à perseguição. Caso do Demonoid, Mininova e The Pirate Bay, por exemplo.
Sobrou pouco. Alternativas menores e menos populares continuam disponíveis enquanto brigam judicialmente, fazendo com que advogados repensem uma série de princípios das relações comerciais e diplomáticas entre países.
Quem acompanha de perto o cenário tem até medo de ser processado ou perseguido por baixar arquivos da internet. Os precedentes são numerosos e a paranóia da indústria parece não ter limites.
Hoje temos provedores abrindo a conta de usuários “sob suspeição”. Temos operadoras sendo coagidas a capear a velocidade de conexão quando detectam o uso de protocolos para compartilhamento descentralizado, como torrent ou peer-to-peer (P2P).
Ocorre que nem sempre há coerção. Porque não há sequer uma mínima regulação sobre o assunto. Aqui no Brasil a gente sabe como, quando, onde e quem faz isso. Operadoras chegam a capear, limitar ou bloquear até mesmo conexões VoIP para você desistir de fazer ligações interurbanas (DDD) usando o Skype.
E não fazem a menor questão de especificar esse “recurso” em contrato. Aquele mesmo contrato que você assina sem ler. É todo o respaldo jurídico de que precisam. Sem um marco regulatório claro, não estão exatamente cometendo uma ilegalidade.
E o limbo entre a ilegalidade e a imoralidade é muito tênue.
Aqui o jogo começa a esquentar. Há exatos dez anos se fala em neutralidade de rede (net neutrality) e o conceito nunca deixou de ser exatamente isto: um conceito.
São centenas de teses de doutorado, estudos técnicos e extensos relatórios sobre a neutralidade de rede. Pode fazer o download desses documentos, não é pirataria.
Na prática, neutralidade de rede nunca saiu do papel. É uma regulação que só interessa ao consumidor, não interessa a nenhuma indústria.
Com tanta dedicação a coibir o uso de redes compartilhadas, a indústria não levou em conta que a falta de marcos regulatórios vale para todos.
E criou um monstro sem querer.
A pirataria depois de amanhã
É óbvio que a pirataria organizada (em alusão proposital ao crime organizado) iria achar solução. Sempre achou. E não tem nada de Sun Tzu.
Você vai pagar, mas não será para as detentoras das marcas ou dos direitos autorais. Não vai pagar pelo produto legalizado. Você vai pagar para fazer o download do conteúdo pirateado mesmo, por meio de redes particulares ou hubs criptografados que vão indexar e hospedar todo esse material. Como se fosse o cofre de uma conta bancária na Suíça ou o papel moeda das Ilhas Cayman.
Pirataria 2.0 já começou. E estão usando as mesmas armas da indústria.
A função do camelô da 25 de março em São Paulo ou do atravessador da Feira dos Importados em Brasília continuará a mesma. Só que além de vender jogos piratas do Playstation e o novo Windows, você também vai comprar uma senha para ter acesso a uma rede privada, anônima, criptografada. Uma rede própria da “loja” ou de um pool de piratas organizados.
Ele pode lhe vender um pendrive com o acesso que você precisa. Ou simplesmente escrever num papelzinho o endereço HTTPS e lhe vender só a senha. Até a sua bisavó vai saber digitar no Firefox. Mais fácil, impossível.
Neste exato momento, há um custo de manutenção sendo pago por um número mínimo de pessoas ao redor do mundo. Essas redes trabalham com criptografia, com transferências seguras via SSL por FTP e até mesmo usando pontos de presença móveis.
Várias delas usam os mesmos protocolos e certificações usados pelos sites de comércio eletrônico para garantir a privacidade e segurança do seu cartão de crédito.
A idéia nem é nova, está presente no submundo da internet há bastante tempo. Só nunca teve aceitação popular, nunca se popularizou como está sendo agora. Via de regra porque todo esse mundo de conteúdo ilegal ainda pode ser encontrado de graça, sem pagar nada.
Mas esses dias estão contados.
Até pouco tempo atrás, pensar em pagar por uma espécie de Napster privativo parecia loucura. Todos que tentaram (inclusive o próprio Napster) falharam.
Acontece que todos tentaram com conteúdo específico (nicho) e material legalizado (direitos autorais), um verdadeiro entrave se consideramos todas as amarras comerciais e jurídicas do processo. É o exato oposto das redes de compartilhamento que conhecemos até hoje e por onde transitam os terabytes de conteúdo ilegal a cada minuto.
Esse período de agora vai ficar marcado como o fim de uma rede de sistemas e protocolos baseada no compartilhamento de arquivos ilegais.
De agora em diante, quem antes compartilhava vai oferecer os mesmos arquivos ilegais, pela internet, do mesmo jeito. Só que por um preço. E muita gente já quer e vai querer pagar, pela facilidade e comodidade.
O embrião da Pirataria 2.0 está com grupos profissionais de piratas e contas pagas em serviços como o Rapidshare, um dos redutos o qual a indústria ainda não conseguiu – e nem vai conseguir – interromper. Sabe por quê?
Porque aqui não é a lei da selva que predomina, onde apenas o mais forte sobrevive. A indústria sempre foi e sempre será um grão de areia frente às possibilidades das redes telemáticas.
Trata-se simplesmente da boa e velha lei de mercado. Onde houver demanda, haverá oferta. Nunca deixou de ser assim. Se fechar uma porta aqui, ali na frente abrem duas.
Sites como Rapidshare ainda precisam de indexadores, no sentido de você saber o link exato ou onde encontrá-los. Ainda precisam de atravessadores, digamos assim.
Além de voltar a usar HTTP em redes privadas, a Pirataria 2.0 começa a adotar protocolos que perderam popularidade com o passar do tempo, como o FTP e a Usenet. Estão voltando a abolir a necessidade de indexadores. Só quem vai saber é quem for sócio.
É assim que funciona quase todas as redes de pedofilia, detalhadas ao extremo em relatórios produzidos pelas polícias internacionais e pelas instâncias jurídicas de todos os países.
Todo mundo sabe como funciona, mas ninguém consegue fechá-las. Por que? Pergunte a qualquer juíz se existe luz no fim do túnel.
As redes privadas e criptografadas da pirataria 2.0 vão funcionar quase como uma aldeia indígena no Brasil. Mesmo que haja suspeita de atos ilícitos lá dentro, ninguém entra sem uma autorização expressa da Funai.
Acontece que no ciberespaço não existe Funai. Os diversos órgãos regulatórios funcionam de direito, não funcionam de fato. Porque nunca foi interesse do mercado, não é interessante criar marcos regulatórios para o mercado.
Exceção à regra são alguns poucos países da União Européia, onde a cultura regulatória socialmente direcionada está mais presente. Não à toa, são os mesmos países criticados e combatidos pelas maiores corporações. Pensou na briga judicial Microsoft vs UE? Pois é. E ela é apenas uma.
Olhe para as agências reguladoras no Brasil (Anatel, Aneel e outras quitandas) e tire sua própria conclusão. Não ache que em outros países é muito diferente. A maioria dos órgãos com competências similares são meros mostruários de boas intenções sem a menor aplicabilidade.
Ou será à toa que o Brasil é o país com as tarifas de telecomunicações mais caras do mundo?
Sobre a pirataria de hoje
Se a boa intenção é conter a pirataria de software e conteúdo ilegal, é preciso deixar bem claro: só existem dois fatos concretos, o resto é opinião e ideologia:
1) Pirataria (ainda) é crime e sites indexadores de torrent são, sim, uma fonte irrestrita de pirataria. É pueril adotar o argumento de que esses sites não hospedam os arquivos, mas apenas apontam o caminho de onde estão; logo, não poderiam ser incriminados.
2) Partindo da premissa 1, se indicar o caminho para conteúdo ilegal vai passar a ser configurado juridicamente como oferta de conteúdo ilegal, então é preciso fechar toda a internet. A começar pelo Google.
Pelo Google eu encontro qualquer torrent. Pelo Google e por qualquer outro mecanismo de busca, eu encontro redes públicas e privadas de pedofilia, remédios falsificados para comprar, contato de grupos de extermínio ou posso simplesmente achar linhas de código que me permitam descobrir senhas de terceiros.
Vamos fechar o Google? Vamos exigir uma autorização especial para usar internet, tipo uma licença de uso ou carteira de motorista?
Enquanto não houver regulações claras sobre a atuação das corporações e fiscalizações peremptórias por parte dos órgãos regulatórios, a lei do mercado sempre vai prevalecer.
E isso não é necessariamente ruim. É quando entra a ideologia de cada um. A lei de mercado sempre foi o desejo da indústria, para defender “os interesses dos artistas” (copyright) e “combater o tráfico de drogas” (o discurso atual). Sem esse desejo incontrolável e tão perseguido, não teríamos a Pirataria 2.0 que surge no horizonte.
Porque agora os interesses são mútuos.
***
Paulo Rebêlo (rebelo@webinsider.com.br) é subeditor sênior do Webinsider e cronista bissexto na Hipopocaranga.
***
Você não paga pelo produto original, mas vai pagar pelo download ilegal. É a lei do mercado aplicada à risca pela indústria e pelos piratas.
Por Paulo Rebêlo
Passados dez anos do emblemático caso Napster vs Metallica, a indústria de entretenimento mirou onde viu e acertou onde não viu.
Pirataria 2.0 é quando você não se importa mais em pagar para ter acesso privilegiado (e ilegal) a todo tipo de conteúdo: filmes, música, pornografia, seriados, desenho animado, livros.
Conteúdo que até agora você sempre teve de graça. E em apenas uma fração de minuto pela conexão banda larga.
É extensa a lista dos sites que foram fechados e das tecnologias que desapareceram nesse intervalo de tempo. O golpe de misericórdia veio agora, final de 2009.
Após uma longa jornada de batalhas judiciais, conseguiram fechar ou intimidar sites outrora considerados imunes à perseguição. Caso do Demonoid, Mininova e The Pirate Bay, por exemplo.
Sobrou pouco. Alternativas menores e menos populares continuam disponíveis enquanto brigam judicialmente, fazendo com que advogados repensem uma série de princípios das relações comerciais e diplomáticas entre países.
Quem acompanha de perto o cenário tem até medo de ser processado ou perseguido por baixar arquivos da internet. Os precedentes são numerosos e a paranóia da indústria parece não ter limites.
Hoje temos provedores abrindo a conta de usuários “sob suspeição”. Temos operadoras sendo coagidas a capear a velocidade de conexão quando detectam o uso de protocolos para compartilhamento descentralizado, como torrent ou peer-to-peer (P2P).
Ocorre que nem sempre há coerção. Porque não há sequer uma mínima regulação sobre o assunto. Aqui no Brasil a gente sabe como, quando, onde e quem faz isso. Operadoras chegam a capear, limitar ou bloquear até mesmo conexões VoIP para você desistir de fazer ligações interurbanas (DDD) usando o Skype.
E não fazem a menor questão de especificar esse “recurso” em contrato. Aquele mesmo contrato que você assina sem ler. É todo o respaldo jurídico de que precisam. Sem um marco regulatório claro, não estão exatamente cometendo uma ilegalidade.
E o limbo entre a ilegalidade e a imoralidade é muito tênue.
Aqui o jogo começa a esquentar. Há exatos dez anos se fala em neutralidade de rede (net neutrality) e o conceito nunca deixou de ser exatamente isto: um conceito.
São centenas de teses de doutorado, estudos técnicos e extensos relatórios sobre a neutralidade de rede. Pode fazer o download desses documentos, não é pirataria.
Na prática, neutralidade de rede nunca saiu do papel. É uma regulação que só interessa ao consumidor, não interessa a nenhuma indústria.
Com tanta dedicação a coibir o uso de redes compartilhadas, a indústria não levou em conta que a falta de marcos regulatórios vale para todos.
E criou um monstro sem querer.
A pirataria depois de amanhã
É óbvio que a pirataria organizada (em alusão proposital ao crime organizado) iria achar solução. Sempre achou. E não tem nada de Sun Tzu.
Você vai pagar, mas não será para as detentoras das marcas ou dos direitos autorais. Não vai pagar pelo produto legalizado. Você vai pagar para fazer o download do conteúdo pirateado mesmo, por meio de redes particulares ou hubs criptografados que vão indexar e hospedar todo esse material. Como se fosse o cofre de uma conta bancária na Suíça ou o papel moeda das Ilhas Cayman.
Pirataria 2.0 já começou. E estão usando as mesmas armas da indústria.
A função do camelô da 25 de março em São Paulo ou do atravessador da Feira dos Importados em Brasília continuará a mesma. Só que além de vender jogos piratas do Playstation e o novo Windows, você também vai comprar uma senha para ter acesso a uma rede privada, anônima, criptografada. Uma rede própria da “loja” ou de um pool de piratas organizados.
Ele pode lhe vender um pendrive com o acesso que você precisa. Ou simplesmente escrever num papelzinho o endereço HTTPS e lhe vender só a senha. Até a sua bisavó vai saber digitar no Firefox. Mais fácil, impossível.
Neste exato momento, há um custo de manutenção sendo pago por um número mínimo de pessoas ao redor do mundo. Essas redes trabalham com criptografia, com transferências seguras via SSL por FTP e até mesmo usando pontos de presença móveis.
Várias delas usam os mesmos protocolos e certificações usados pelos sites de comércio eletrônico para garantir a privacidade e segurança do seu cartão de crédito.
A idéia nem é nova, está presente no submundo da internet há bastante tempo. Só nunca teve aceitação popular, nunca se popularizou como está sendo agora. Via de regra porque todo esse mundo de conteúdo ilegal ainda pode ser encontrado de graça, sem pagar nada.
Mas esses dias estão contados.
Até pouco tempo atrás, pensar em pagar por uma espécie de Napster privativo parecia loucura. Todos que tentaram (inclusive o próprio Napster) falharam.
Acontece que todos tentaram com conteúdo específico (nicho) e material legalizado (direitos autorais), um verdadeiro entrave se consideramos todas as amarras comerciais e jurídicas do processo. É o exato oposto das redes de compartilhamento que conhecemos até hoje e por onde transitam os terabytes de conteúdo ilegal a cada minuto.
Esse período de agora vai ficar marcado como o fim de uma rede de sistemas e protocolos baseada no compartilhamento de arquivos ilegais.
De agora em diante, quem antes compartilhava vai oferecer os mesmos arquivos ilegais, pela internet, do mesmo jeito. Só que por um preço. E muita gente já quer e vai querer pagar, pela facilidade e comodidade.
O embrião da Pirataria 2.0 está com grupos profissionais de piratas e contas pagas em serviços como o Rapidshare, um dos redutos o qual a indústria ainda não conseguiu – e nem vai conseguir – interromper. Sabe por quê?
Porque aqui não é a lei da selva que predomina, onde apenas o mais forte sobrevive. A indústria sempre foi e sempre será um grão de areia frente às possibilidades das redes telemáticas.
Trata-se simplesmente da boa e velha lei de mercado. Onde houver demanda, haverá oferta. Nunca deixou de ser assim. Se fechar uma porta aqui, ali na frente abrem duas.
Sites como Rapidshare ainda precisam de indexadores, no sentido de você saber o link exato ou onde encontrá-los. Ainda precisam de atravessadores, digamos assim.
Além de voltar a usar HTTP em redes privadas, a Pirataria 2.0 começa a adotar protocolos que perderam popularidade com o passar do tempo, como o FTP e a Usenet. Estão voltando a abolir a necessidade de indexadores. Só quem vai saber é quem for sócio.
É assim que funciona quase todas as redes de pedofilia, detalhadas ao extremo em relatórios produzidos pelas polícias internacionais e pelas instâncias jurídicas de todos os países.
Todo mundo sabe como funciona, mas ninguém consegue fechá-las. Por que? Pergunte a qualquer juíz se existe luz no fim do túnel.
As redes privadas e criptografadas da pirataria 2.0 vão funcionar quase como uma aldeia indígena no Brasil. Mesmo que haja suspeita de atos ilícitos lá dentro, ninguém entra sem uma autorização expressa da Funai.
Acontece que no ciberespaço não existe Funai. Os diversos órgãos regulatórios funcionam de direito, não funcionam de fato. Porque nunca foi interesse do mercado, não é interessante criar marcos regulatórios para o mercado.
Exceção à regra são alguns poucos países da União Européia, onde a cultura regulatória socialmente direcionada está mais presente. Não à toa, são os mesmos países criticados e combatidos pelas maiores corporações. Pensou na briga judicial Microsoft vs UE? Pois é. E ela é apenas uma.
Olhe para as agências reguladoras no Brasil (Anatel, Aneel e outras quitandas) e tire sua própria conclusão. Não ache que em outros países é muito diferente. A maioria dos órgãos com competências similares são meros mostruários de boas intenções sem a menor aplicabilidade.
Ou será à toa que o Brasil é o país com as tarifas de telecomunicações mais caras do mundo?
Sobre a pirataria de hoje
Se a boa intenção é conter a pirataria de software e conteúdo ilegal, é preciso deixar bem claro: só existem dois fatos concretos, o resto é opinião e ideologia:
1) Pirataria (ainda) é crime e sites indexadores de torrent são, sim, uma fonte irrestrita de pirataria. É pueril adotar o argumento de que esses sites não hospedam os arquivos, mas apenas apontam o caminho de onde estão; logo, não poderiam ser incriminados.
2) Partindo da premissa 1, se indicar o caminho para conteúdo ilegal vai passar a ser configurado juridicamente como oferta de conteúdo ilegal, então é preciso fechar toda a internet. A começar pelo Google.
Pelo Google eu encontro qualquer torrent. Pelo Google e por qualquer outro mecanismo de busca, eu encontro redes públicas e privadas de pedofilia, remédios falsificados para comprar, contato de grupos de extermínio ou posso simplesmente achar linhas de código que me permitam descobrir senhas de terceiros.
Vamos fechar o Google? Vamos exigir uma autorização especial para usar internet, tipo uma licença de uso ou carteira de motorista?
Enquanto não houver regulações claras sobre a atuação das corporações e fiscalizações peremptórias por parte dos órgãos regulatórios, a lei do mercado sempre vai prevalecer.
E isso não é necessariamente ruim. É quando entra a ideologia de cada um. A lei de mercado sempre foi o desejo da indústria, para defender “os interesses dos artistas” (copyright) e “combater o tráfico de drogas” (o discurso atual). Sem esse desejo incontrolável e tão perseguido, não teríamos a Pirataria 2.0 que surge no horizonte.
Porque agora os interesses são mútuos.
***
Paulo Rebêlo (rebelo@webinsider.com.br) é subeditor sênior do Webinsider e cronista bissexto na Hipopocaranga.
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