2 de out. de 2009

As Histórias do Jabá - Yes, nós temos jabá!!















Dentro de alguns dias vou lançar meu e-book gratuito, "Manual de Sobrevivência no Mundo Digital", baseado nos artigos que escrevi sobre o assunto no blog do meu site.

As críticas e comentários de vocês me ajudarão a formatar um livro que pretendo lançar fisicamente - dando os devidos créditos, é claro.

Relendo para fazer correções, achei esse trecho interessante sobre jabá, que mostra como ele ajudou a dinamitar a indústria da música e a torná-la irrelevante - e desnecessariamente cara.

Resolvi então colocar no Música Líquida para degustação de vocês.


As histórias do jabá

Quando a maioria das rádios se interessava por música, o lançamento de um artista importante era disputado a tapa pelas principais emissoras. Todas queriam exclusividade. Por exemplo, quando a Warner ia lançar um novo single da Madonna, procurava saber que rádio estava em primeiro lugar na audiência em cada cidade importante e dava a esta uma ou duas semanas de exclusividade de execução. Com tal privilégio a rádio era beneficiada com ainda mais audiência interessada em ouvir em primeira mão a nova música da artista. Um jogo com vários ganhadores: a gravadora, o artista e a rádio beneficiada. Com isso a gravadora conseguia convencer as rádios a tocarem outros artistas do seu cast. A moeda de troca era música.

Há alguns anos atrás, quando os CDs vendiam horrores e o jabá imperava, se Deus, pessoalmente – o Deus que você quiser -, viesse à Terra para visitar uma emissora de música jovem com retransmissoras por todo o território nacional e dissesse que compôs uma canção divina, com melodia sublime, uma letra celestial, embora escrita em linhas tortas, e que, na sua banda, o solo de guitarra foi tocado pelo Jimi Hendrix, o de trompete pelo Miles Davis, nas guitarras e nos backing vocals ele contou com John Lennon e George Harrison, que a Janis Joplin, a Cássia Eller, a Elis Regina, o Tim Maia e o Elvis Presley completaram o coro, ele ouviria um muxoxo desinteressado e algumas frases sobre a canção não se adaptar ao perfil da rádio, que os artistas não são jovens, que faz tempo que eles não lançam nada novo, que o programador tem que escutar, mas que tem muita coisa esperando na fila e no final viria uma sugestão de “promoção” que ficaria entre R$ 30.000,00 e R$ 50.000,00 para 40 dias de execução, duas vezes por dia e algo sobre renovar o “acordo” depois disso. E a música? Provavelmente nem seria ouvida. Porque isso não é mais o que importa.

Claro que essa postura fez com que, cada vez menos, esse seja um veículo para descobrir artistas interessantes e diferentes. O veículo ficou mais importante que o seu conteúdo.

O custo do jabá

Essa também foi a razão do CD, que como produto é mais barato que o vinil, ter ficado tão caro. Imagine que você tenha que divulgar um artista de grande porte e que, só na rádio, você vai “investir” R$ 500.000,00. Se a previsão de vendas é de 500 mil discos a “promoção” já encareceu um real cada exemplar. Se pusermos em cima disso o lucro do vendedor (mais um real) e impostos, o CD tem que custar R$ 2,50 a mais, pelo menos. Mas quantos CDs vendem essa quantidade? Os que vendem têm que pagar pelos que não vendem. Como eles acertam um em cada dez, a conta vai ficando salgada.

19 comentários:

  1. Putz. Por um momento pensei que ias falar desse Jabá aqui:

    http://www.4shared.com/file/90687067/fd753b1e/02_-_Libera_logo.html

    Favoritei o blog. Parabéns.
    Gde abraço.

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  2. Caraca, não... e nós, pobres mortais, apaixonados por BOA música temos que nos prestar a escutar o que o dinheiro acha bom...
    Aliás, temos mesmo?
    Deus seja louvado pela existência da internet.
    E parabéns pelo blog.
    Também escrevo sobre música. Dêem um pulo em www.misturamusical.blogspot.com
    Abraço!

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  3. Acabei de lançar um disco pop e tenho muitos amigos radialistas. Tenho uma música comercialmente boa e o máximo que eu consigo é "a gente dá uma força". Nem mesmo se eu quiser pagar (um valor baixo, é claro, não sou rico), é impossível ter acesso. Tento saber como funciona o esquema, mas parece "top secret" de governo. O resultado é que a minha música toca 1, 2 vezes por semana, enquanto a música de trabalho de um major toca 10 vezes por dia. É sacanagem.

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  4. Excelente post, essa conduta criminosa contribuiu para a deteriorização de um dos principais valores da identidade nacional: a música brasileira.

    Recomendo a leitura desse artigo para agregar o debate: http://www.digestivocultural.com/ensaios/ensaio.asp?codigo=129

    Abraço.

    Léo Morel

    ps: Estou recomendando esse post no meu twitter e facebook.

    :)

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  5. Leoni, o jabá continua atual? Li no blog do Tico Santa Cruz que seria uma prática do passado e que as "parcerias comerciais" entre bandas, gravadoras e rádios se davam de forma diferente atualmente (mas não disse de que forma). Até que ponto pedidos de ouvintes influenciam na programação das rádios?

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  6. Caro Anônimo, eu não posso afirmar como estão as coisas no momento. O que eu sei é que as gravadoras pararam de pagar tanto jabá e que os artistas começaram a arcar com uma parte da conta. Não há nada de diferente. Para mim é a mesma história com outra embalagem. As rádios têm dado nota fiscal de "promoção" e dão alguns spots para a banda. Mas em diversas rádios, se não pagar não toca.

    Depois que você entra na programação os votos da audiência são importantes, mas não há quantidade de votos que faça um artista ser incluído no playlist de uma rádio que cobre jabá.

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  7. Eu acabei de lançar 130 musicas inéditas de uma só vez com parcerias legais como Seu Jorge, Sandra de Sá, Zeca Baleiro, André Abujamra, Chico Cesar... e lançei no meu site onde a pessoa acessa ouve um trecho e compra se eu for depender de rádio pra tocat esse trabalho eu vou trabalhar pra pagar JABÁ pra eles e ta por fora.
    Luiz Caldas

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Grande Luiz Caldas. É uma honra tê-lo por aqui. E eu não entrei nessas 130? Para a próxima avalanche de música não deixe de me convidar. Adoraria ser seu parceiro.

    Você sabe bem como é essa história de jabá, não é?

    Nossos colegas tinham que se negar a participar do jogo. Mas muitos deles só são contra da boca da fora. Se a gravadora pagar eles fingem que não estão vendo. E muitos pagam mesmo, com shows.

    Apareça sempre. Qual é o seu site para que nós possamos ouvir suas músicas? É www.luizcaldas.com.br?

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  10. Olá Leoni,

    Muito bom o post. Penso, que em outras palavras quer dizer que a atual cadeia produtiva da música fomenta o jabá. A gravadora apropria-se da maioria das músicas que passam por seus estúdios. E para ficar mais tempo no ar nas rádios comerciais, precisam pagam jabá. Por isso as mais tocas são essas: "Obras e Fonogramas - As mais tocadas" http://www.abramus.org.br/Obras_e_Fonogramas_-_As_mais_tocadas/?menu=4

    Também por isso, as bandas que ganharam grande parte dos prêmios VMB2008 são de uma cara chamado Rick Bonadio.

    Muitas rádios comerciais escondem o jabá dentro de publicidade ou coisa parecida, e ganha muito com isso

    O ECAD recolhe por amostragem, e advinhem de quem são as músicas que mais aparecem? Sim, aquelas que ficam mais tempo no ar. Ou seja, a maioria das músicas que aparecem nas amostragens é de quem paga jabá. Claro que tem gente que aparece nas amostragens e não pagam jabá, mas é um número pequeno.

    Por isso, a atual cadeia produtiva da música fomenta o jabá, que acaba com a diversidade musical no Brasil.

    Parabéns Leoni. Vamos continuar na caminhada...

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  11. Leoni, considero que as rádios continuam sendo o principal meio de se conhecer um novo trabalho de um artista. Talvez isso esteja com os dias contados, com a possibilidade de acesso à internet cada vez mais universalizado. Me parece, por exemplo, que já é possível acessar um site qualquer através do celular, para ouvirmos as músicas que quisermos, conectando o celular`ao radio do carro (ambiente onde mais ouço rádio). Mas como CONHECER o que vamos querer ouvir? Acho que vc aponta um dos caminhos, ao encaminhar e-mails aos cadastrados do seu site, por exemplo. Poderia cadastrar números de cel, e mandar mp3 da "musica de trabalho" para os cels cadastrados. Acho que diante da tecnologia o artista tem cada vez mais opções para promover seu trabalho. Há anos atrás, eu imaginava que anunciar a nova musica de trabalho em outdoor, podia ser uma boa, para driblar o jabá... Hugo Alencar (não consigo postar, a não ser como anônimo)

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  12. Muito interessante essa matéria!
    Sem dúvida um assunto que sempre vai dá o que falar.

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  13. Olá pessoal,

    Postei um texto que também fala sobre esse assunto. Acesse musicaparabaixar.org.br O título é "Porque tanta resistência com a cultura/música livre?"

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  14. Oi Leoni!

    É muito triste pensar que o jabá está aí, ainda que num formato diferente, e que tira a oportunidade do grande público de ouvir grandes músicos que não foram "descobertos" ou melhor, que simplesmente não tiveram como bancar o tal jabá.

    Hoje em dia temos como ouvir ou baixar quase tudo, mas mesmo com tanta oferta gratuita, bate aquela impressão que não têmos mais aqueles "arrasa-quarteirões" de antes. Raríssimos são os álbuns lançados que a gente entra em êxtase ao ouvir, ficamos ouvindo por muito tempo e etc. Talvez por causa dessa ditadura musical imposta pelas gravadoras e afins. Triste!

    E sobre o Luiz Caldas, recentemente ele lançou um disco fantástico e surpreendente, fugindo do rótulo do axé e mostrando que ele é sim um grande músico. Está no myspace (acho que é http://www.myspace.com/luizcaldas)

    FaloU!!

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  15. Ola ! somos uma banda independente e se não houvesse somente o problema do JABÁ, ainda temos um pre-vestibular deste jabá... é o esquema de venda de imgressos pra tocar, oque somos verementemente contra...então até mesmo no esquema independene existe esta prática descriminatória.
    Quem tem dinheiro consegue colocar sua musica!!
    www.myspace.com/bandaoctane

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  16. Xocante!!!
    ter uma banda,ou vc ser compositor,é acreditar que a melhor forma de se fazer sucesso e você mesmo se sentir satisfeito com o seu som"faça musica para você"e se alguém gostar "legal".

    vamos continuar tocando.

    .///

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  17. Pessoal do Musicalíquida está de parabens pelo blogsite__Trabalhei no Rio durante 12 anos nos anos 70 em uma gravadora
    nacional e tambem fiz trabalhos como arranjador para as "majors" como RCA,CBS e outras.O que se ouvia naquela
    época nos "bastidores" era que o "agrado"="propina"=jabá" estava aumentando a cada dia;não queria acreditar no que estava
    ouvindo pois feria os meus "ideais" de compositor, até que um dia um arregimentador(o que contratava os músicos,arranjadores etc..)
    amigo meu contou alguns detalhes sobre o jabá;começou com "garrafas de bebida".depois carro,seguidos de apartamentos, até passar a somas volumosas de
    grana pura;começou e ainda continua nas radios e estendeu-se para as TVs onde existem programas de auditório,novelas etc..
    Hoje principalmente na TV existe a "ligitimização da propina" com o lindo nome de "verba para market".
    Ou seja os horários de estudio,músicos,arranjadores,prensagem,design gráfico etc..atingem 20% da produção de lançamneto de um artista; o que é
    uma bagatela diante dos 80% para a distribuição e veiculação.
    Estou viajando muito? não! como o artista consegue colocar uma música dele numa novela! qualidade do artista? Não,é a soma de dinheiro altíssima diga-se
    de passagem que vai entrar como "verba de market"____o mesmo raciocionio serve para veiculação e distribuição de videos e filmes.
    Creio que a Internet e a tecnologia mudou muito esta configuração de como "realizar um CD,veicular e distribuir"
    O negocio é ficar de "olhos e ouvidos abertos" para este tipo(ou qualquer tipo) de corrupção e tambem com discernimento averiguar se um determinado
    artista,intérprete ou compositor tem qualidade(raro nos dias de hoje)
    Abraço a todos

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  18. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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