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Com o pé no freio, gravadoras procuram novos modelos para o negócio da música
Antônio Carlos Miguel
Os números divulgados na semana passada, em Londres, pela Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI na sigla em inglês), são dramáticos: entre 2004 e 2008, o mercado de disco no Brasil teve queda de 80%. Uma das consequências dessa crise é o menor investimento na produção de música brasileira por parte das gravadoras multinacionais aqui instaladas, que, juntas com a Som Livre, integram a Associação Brasileira de Produtores de Disco (ABPD) e ainda responderiam por 80% do mercado brasileiro.
No entanto, correndo por fora, selos independentes ou artistas — muitos organizados na Associação Brasileira da Música Independente (ABMI), com 113 afiliados — continuam produzindo e lançando. Muito, mesmo que suas tiragens sejam quase sempre pequenas. Ainda aguardando o fechamento dos números de 2009, o diretor executivo da ABMI, José Celso Guida, estima em cerca de 800 títulos nacionais editados. A Biscoito Fino, sozinha, por exemplo, no ano passado, botou 98 títulos no mercado, mais que a soma do que as quatro multinacionais, EMI, Sony, Universal e Warner, lançaram no mesmo período.
Em bom português, as grandes botaram o pé no freio. Mas, segundo os executivos do meio ouvidos pelo GLOBO, o pior passou, e o momento é de encontrar novos modelos para a música, que não parou.
Marcelo Castello Branco, presidente da EMI (também responsável pela companhia na América do Sul e Central), garante que a fase negativa é passado. Entre seus argumentos, está o lançamento de 31 artistas brasileiros em 2009: 19 deles gravados pela própria EMI, sete licenciados (com a empresa assumindo o marketing) e cinco apenas com contratos de distribuição.
— Continuamos arriscando, apesar de sermos mais seletivos. E a música brasileira ainda representa 70% de nosso negócio. Aprendemos a conviver com os problemas e estamos mais proativos — assegura Castello Branco, que também diz que mesmo com o crescimento da venda digital, principalmente para celulares, o produto físico, CD ou DVD, ainda é o que move o setor. Isenção de imposto para CD não veio Desde 2008 líder no mercado brasileiro, a Sony Music, segundo seu presidente, Alexandre Schiavo, ainda banca 90% das produções nacionais que lança.
— Cada vez mais, artistas chegam com discos gravados; gente como Roberto Carlos, Jota Quest e Skank, por exemplo, têm seus estúdios.
Mas, na maioria dos casos, pagamos os custos dessas produções.
E, quando isso não acontece, o que investimos em marketing ainda é muito mais alto do que a gravação em si — diz Schiavo, que lançou apenas 13 títulos novos brasileiros no ano passado. — Sim, estamos investindo menos, mas tivemos lucros nos dois últimos anos. Após perdas seguidas, fizemos o enxugamento necessário.
A Sony também conseguiu outras fontes de renda por meio de seu braço no ramo de shows, a Day 1 Entertaiment, mas o executivo pede mais ajuda do governo: — Reduziram impostos de carros, eletrodomésticos, material de construção; o livro é isento, enquanto isso, a nossa rica produção musical não tem incentivo algum.
Pelo depoimento do presidente da Universal Music, José Antônio Éboli, essa ajuda é urgente. Segundo ele, os dados da IFPI sobre o Brasil são reais.
— A proporção entre produtos nacionais e estrangeiros deve voltar aos níveis do passado, com predominância do catálogo internacional.
Discos de artistas como Lady Gaga, Rihanna, U2 chegam ao Brasil como sucessos, já têm suas fatias do mercado garantidas. Enquanto isso, perdemos o mercado nordestino; depois, o do axé; e, agora, estamos perdendo os sertanejos, eles mesmos se autopirateiam, fabricando até 20 mil discos por mês para distribuírem nas cidades onde fazem seus shows.
Para compensar a perda dos grandes filões populares, a Universal se volta para setores segmentados e, como suas concorrentes, disputa hoje o circuito das livrarias com títulos diferenciados.
Uma das estratégias é relançar em versão “premium”, com faixas bônus e eventuais vídeos, os discos de 2009 de Nando Reis, Zélia Duncan, Titãs e Mariana Aydar, que chegarão às lojas em março.
— Há um consumidor que quer qualidade e não foi seduzido pela pirataria física, nem baixa música ilegalmente. Mas a indústria perdeu o público jovem, aquele que sempre fez diferença no nosso negócio, e reverter isso é muito difícil — lamenta-se Éboli.
O quadro pintado por Wagner Vianna, diretor artístico da multinacional que faltava, Warner Music, é menos pessimista, mas ele confirma que é o catálogo internacional predomina.
— Recebemos do mundo inteiro e já vêm prontos, alguns com sucessos.
No caso de artistas nacionais, nossos contratos agora são de 360 graus, com direito de imagem, digital e agenciamento de shows.
Lançamos seis artistas em 2009 dentro desse modelo, mas há exceções, e boas, como Gilberto Gil, que produz em seu próprio selo.
Gil diz que os muitos anos “de casa e o bom relacionamento” que sempre teve com a Warner influíram na decisão de fazer um acordo de distribuição com a empresa.
— As grandes gravadoras têm muita experiência com o mercado, além do fato de que é reduzido o número de distribuidores independentes com porte para trabalhar na escala requerida para todo o país, quando falamos do disco ou do DVD físico. Mesmo para as majors, a distribuição sempre foi o maior problema — responde, por e-mail, o cantor e ex-ministro.
Entre as afiliadas à ABPD, a Som Livre foi a que mais acreditou na música brasileira — e em nichos rentáveis, como o religioso, de padres católicos a pastores evangélicos.
Seu presidente, Leonardo Ganem, comemora o fato de, a partir de 2007, ter voltado a investir e contratar artistas, criando até subselos, como o Som Livre Apresenta, que lançou no ano passado a cantora e compositora Maria Gadú.
— Seu disco já bateu 50 mil cópias, e agora, com música na novela, começa a crescer no resto do Brasil — conta Ganem.
Diretora artística da Biscoito Fino, a também cantora Olívia Hime conta que, para chegar aos 98 títulos editados em 2009, tanto produziu no estúdio que mantém em sua sede no Rio, quanto licenciou discos que chegaram prontos.
— Há muita música boa sendo feita pelo Brasil todo. Mas, hoje, o negócio do CD é na base dos tostões, só recuperamos o investimento lentamente. Menos pessoas compram discos, mas essas ainda compram muito — diz Olívia, que, para atender esse público, conta com a rede de quiosques em shoppings montada pela gravadora e uma loja na internet, mas também disputa espaço nas livrarias, para onde migrou o que restou do mercado de CD/DVD.
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Conteúdo é mais importante do que formato
Para Marcos Valle, com a crise, grandes gravadoras estão revendo o conceito de só apostar no lucro imediato.
A maré pode andar difícil para os peixes graúdos, mas há quem enxergue possibilidades na crise sem fim. É o caso de Marcos Valle, que em quatro décadas de carreira já experimentou diversos formatos.— Prefiro esse momento do que no início da década, quando a indústria do disco vivia a euforia das vendas astronômicas e dava todas as cartas, sem apostar em nada que não desse lucro imediato — diz Valle, que, nos últimos anos, tem gravado bastante, seja bancado pelo selo inglês Far Out ou por patrocinadores. — Tanto em “Jet samba” quanto em “Página central”, este em dupla com Celso Fonseca, tive investidores e depois negociei o lançamento.
Lulu Santos, também com muita estrada, diz preferir se concentrar na sua música: “Não sou alheio nem alienado, mas o assunto não me excita”.
Por isso mesmo, após produzir o recente CD “Singular”, assinou um contrato de licenciamento com a EMI.
— Quero imaginar que o grupo empresarial que me representa no mercado gasta mais tempo e energia buscando essas soluções com mais competência. O que fazemos é contornar as dificuldades na prática, principalmente não deixando faltar música, que sempre está em demanda.
À frente da empresa RWR, o diretor de TV Roberto de Oliveira tem apostado pesado na produção independente, que depois negocia com diferentes parceiros. Nos últimos cinco anos, foi o responsável por DVDs de medalhões e novos: Chico Buarque, Rita Lee, Marcos Valle, Dona Ivone Lara, Mart’nália, Malu Magalhães, Silvia Machete... Para ele, as mudanças no setor de entretenimento serão bem maiores: — As gravadoras estão sofrendo o impacto da mudança de tecnologia, a distribuição digital, que é mais grave que os prejuízos causado por CDs e DVDs piratas, pois deve acabar com o suporte físico — diz o produtor, que faz um exercício de futurologia. — Em breve, os consumidores vão pagar pouco ou nada pelos conteúdos, que serão bancados por patrocinadores, que por sua vez só pagarão pelas mensagens efetivamente clicadas.
Conteúdos mais sofisticados serão cobrados, e estas receitas e as verbas publicitárias vão pagar a conta do conteúdo fornecido gratuitamente e a remuneração de produtores e artistas. (A.C.M.)
As gravadoras continua dizendo a mesma coisa, fazendo a mesma coisa e esperando a mesma coisa. Não vai dar certo.
ResponderExcluirTodo mundo esperando o pulo do gato, mas ninguém quer se arriscar.
Até quando isso vai durar?
"Em breve, os consumidores vão pagar pouco ou nada pelos conteúdos, que serão bancados por patrocinadores, que por sua vez só pagarão pelas mensagens efetivamente clicadas." Também enxergo esse cenário. Para refletir, talvez esteja errado, mas tenho observado que artistas da nova geração que foram cultuados como os de melhores discos em 2009, como o exemplo baiano do Roney Jorge e os Ladrões de Bicicleta, não vivem de música pois não fazem muitos shows e liberam suas músicas para downloads gratuitos nos seus sites. Os caras têm outros empregos. Por isso não estou tão certo se os shows são o caminho para se ganhar dinheiro com música... Acho que o caminho do patrocínio (de sites, discos, músicas) terá que ser tentado.
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