19 de jan. de 2010
Música gravada: uma bolha no tempo
Brian Eno:
"Acho que discos foram apenas uma bolhinha no tempo e aqueles que conseguiram seu sustento com eles foram uns sortudos. Não há razão por que se ganhe tanto dinheiro vendendo discos , exceto quando tudo estava certo naquele período de tempo. Eu sempre soube que iria dar errado cedo ou tarde. Não podia durar muito, e agora está dando errado. Não me importo particularmente que seja assim e gosto da forma que as coisas vão indo. A era do disco foi apenas uma piscadela. Era com se você tivesse banha de baleia nos anos 1840 e a utilizasse como combustúvel. Antes de aparecer a gasolina, se o seu negócio fosse banha de baleia você seria o homem mais rico da Terra. Aí veio a gasolina e você ficou para trás com sua banha de baleia. Foi mal, parceiro – a história continua. Música gravada é igual a banha de baleia. No fim, outra coisa a substituirá."
Do original no Guardian:
“I think records were just a little bubble through time and those who made a living from them for a while were lucky. There is no reason why anyone should have made so much money from selling records except that everything was right for this period of time. I always knew it would run out sooner or later. It couldn’t last, and now it’s running out. I don’t particularly care that it is and like the way things are going. The record age was just a blip. It was a bit like if you had a source of whale blubber in the 1840s and it could be used as fuel. Before gas came along, if you traded in whale blubber, you were the richest man on Earth. Then gas came along and you’d be stuck with your whale blubber. Sorry mate – history’s moving along. Recorded music equals whale blubber. Eventually, something else will replace it.’’
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Sou de 77 e descobri o rock em 85.
ResponderExcluirLegião, Titãs, Barão, Paralamas, Kid Abelha, Capital, aquela turma toda.
Peguei a fase de ouro dos LPs e CDs mas desde
aquela época já cultivava o hábito de criar coletâneas personalizadas em fitas K7.
Atualmente chegamos num estágio onde fica impossível não se render ao arquivo digital.
São inúmeras as vantagens que tornam a experiência de ouvir música bem mais prática e prazerosa.
Como sou meio "antigo" ainda não me acostumei ao modelo que o Leoni usa de lançar faixa a faixa mas já estou achando melhor.
Inclusive apostaria que esse modelo se tornará padrão em breve.
Paulo
Um erro na comparação do nosso valoroso Eno é que o óleo de baleia não se tornou uma forma de arte e entretenimento, e ainda se fossem realmente equivalentes essas duas mtérias ...well, as pessoas ainda estariam desesperadas por óleo de baleia, milhóes de litros trocados entre consumidores ávidos só que gratuitamente. A música gravada tem características artísticas e admito que vai chegar perto do desaparecimento, como outros formatos artísticos (Ópera, Canto orfeônico ...), mas vai sempre estar por aí também como esses estilos de obras que se utilizam da música como matéria prima
ResponderExcluirabçs
Humberto Barros
Caro Humberto, disco nao eh uma forma de arte. Sem querer falar o obvio - e tenho certeza que vc sabe disso - a arte eh a musica e o disco eh o canal.
ResponderExcluirA musica nao acabara, simplesmente sera distribuida por outros canais.
As pessoas nao estariam atras de oleo de baleia (disco), e sim atras de combustivel (musica), seja qual fosse.
Hoje, algumas pessoas estao voltando ao vinil (por questao de colecionar, de ter uma qualidade sonora melhor, enfim, coisa de aficcionado), mas todas estao adotando, por vontade propria ou nao, o mp3, o streaming, etc.
Abracos!
Primeiramente queria dizer que,acabo de conhecer o blog e que curti pakas,Sobre o texto acima,achei massa a comparação,bom texto mas,discordo da opinião "gosto da forma como as coisas vão indo'' eu particulamente nao gosto,acho que de certa forma essa nova era da mp3 fode todo um conceito a música se torna meio banalizada,eu até hoje compro cds de bandas que gosto,baixo bastante cois mas,sempre que posso compro tbm,acho importante.
ResponderExcluirse puder visitar meu blog,ainda não esta no nível do múscia líquida,mas sempre procuramos melhorar www.mentealternativasa.blogspot.com
Oi Higor. Legal você ter gostado do Musicalíquida. Estamos numa fase meio devagar no envio de posts, mas daqui há pouco a coisa anda de novo. Fui lá no Mente Alternativa. Parabéns! Keep going.
ResponderExcluirO Brian Eno está se referindo à falência do modelo de negócio baseado na venda de música gravada, que um dia foi bilionário. É esse modelo que ele compara com o comércio de banha de baleia. O mundo mudou rapidamente e esse modelo é uma sombra do que era.
Quanto a ele dizer que gosta do que está acontecendo... sei lá. Interpreto isso como a constatação dele que as gravadoras, como são hoje, são irrelevantes, e uma aposta dele nas possibilidades que se abrem para a audição e criação musical. Duvido que despreze os feitos artísticos das últimas décadas, pelos quais ele próprio é grande responsável.
Quanto a mim mesmo gostar do que está acontecendo... há controvérsias. :-) Cresci com os vinis e os CDs, tenho uma ligação emocional com eles e com uma certa forma de ouvir que eles induziam. Mas ao mesmo tempo sei que isso pertence a um mundo que não existe mais. Quero entender e aproveitar da melhor forma as mudanças desses tempos, que não deixam de ser interessantes.
Aliás, sugiro ver o texto completo no Guardian. O Eno tem sempre coisas interessantes e originais a dizer.
Um abraço.
O Marcelo acertou em cheio em traduzir esse texto. Eu sabia que geraria alguma polêmica. Eu mesmo já tinha pensado em fazê-lo.
ResponderExcluirAcho bacana o Brian Eno dizer que vai se adaptar. No fundo a afirmação é de que a música vai continuar, independente do formato em que for comercializada.
Ele não disse que música era igual a banha de baleia. O que ele equiparou a esse combustível foi a música GRAVADA. Não sei se concordo inteiramente. A música ainda será gravada. Talvez seja difícil ganhar dinheiro com essa atividade. Mas ela continuará a ser nosso combustível.
Aliás, a única certeza que temos nesse assunto é que não temos certeza de nada quanto ao futuro.
Oi, passei pra conhecer seu blog, e desejar boa noite.
ResponderExcluirmuito legal o conteúdo!
aguardo sua visita :)
Polêmica é sempre bom! hauhau
ResponderExcluirUma coisa que nunca se diz e que deve ser levada em conta é que (não o disco certamente) mas a música gravada é uma das formas DA arte muito particular e contem suaas características que a música ao vivo não tem, e obviamente o contrário é absolutamente verdadeiro e muito mais lembrado.
ResponderExcluirA muito tempo criamos costumes relacionados à apreciação da mesma, uma vez que a cada dia podemos ouví-la em outras partes que não as casas de show ou concertos. Ouvimos e reouvimos musica gravada por se tratar de takes perfeitos eternizados ali naquele momento congelado e por estarmos sempre querendo desvendar um pouco mais daqueles instantes históricos (e que vão se tornando mais históricos com o passar do tempo). Reconhecemos o trabalho de produtores musicais, apreciamos a magia de um estúdio sobre uma obra assim como apreciamos num filme é quando temos tempo de desvendar coisas sobre uma música . Em gravações de apresentações ao vivo viajamos em estar ali naquela platéia que se incendeia e reouvimos mais ainda para estarmos naquela grande noite mais uma vez. Nós, os seres humanos....todos nós, os que ouvem música gravada gostamos muito dessas particularidades. E é aí que mora a grande diferênça entre um produto qualquer e a música gravada....ela é a música gravada e não apenas música. E é por isso que ela vai estar por aí sem dúvida assim como outras formatos da música.
+abçs
Humberto Barros
Olá Humberto, é sempre bom encontrá-lo por aqui. Concordo plenamente com você - como não concordar? – que a música gravada tem particularides artísticas/expressivas que uma apresentação ao vivo não alcança.
ResponderExcluirO pianista Glenn Gould chocou a todos ao abandonar as apresentações e se dedicar exclusivamente às gravações. Era ali que ele realizava a sua "interpretação" ideal de uma dada peça, montando-a em estúdio a partir dos melhores trechos de sessões diferentes, azucrinando os engenheiros de som. Ele teve a sacação genial das potencialidades do estúdio antes até que os Beatles e George Martin, Frank Zappa etc... O resto é história, e avanço artístico embricado com tecnologia.
Talvez isso não tenha sido dito aqui é porque é óbvio. O que se se coloca em questão (como no texto do Eno) é o modelo de negócio ainda vigente, baseado numa certa forma de lidar e lucrar com essa música gravada. Isso, não importa a nossa vontade, já está fazendo água há tempos. O que não quer dizer que a música gravada desapareça. Não há nenhum sinal disso - mesmo que os formatos musicais mudem e a experiência de ouvi-los também, já que o suporte mudou e permite outros vôos.
E o legado incrível dos álbuns maravilhosos tão importantes pras nossas vidas continua aí, cada vez mais à disposição. Como diz o Drummond, "...as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão." Grande abraço.
Acho que o buraco é mais embaixo.
ResponderExcluirA questão me parece ser: Terá a música gravada autonomia como forma de arte?
Porque a música gravada nasceu como uma mera forma de reprodução da música ¨ao vivo¨. A maior parte da produção de música gravada é ainda hoje pensada dessa forma.
Nos últimos cinquenta anos , aos quais se refere o Eno , a música gravada foi se tornando cada vez mais importante, porque era o elemento essencial de divulgação da música. Mas persiste ainda no inconsciente coletivo a idéia de que a música gravada é um simulacro , tanto que tem gente que ainda se preocupa se é a voz que a Madonna está cantando na hora a que ele está ouvindo no show.
Escrevi a pouco tempo um post sobre isso em que eu usava a imagem do cachorro correndo atrás do rabo, para falar de performances musicais onde o artista fica tentando reproduzir o disco no show.
Acho que a crise de formatos provocada pela digitalização e o próprio avanço da tecnologia levaram o cachorro e seu rabo a uma situação limite. Ou eles são uma coisa só e a música gravada será só reprodução ( a mais fiel possível ) da música ¨performada¨, ou se separarem de vez e o cahorro fica cotó ,porque a música gravada passa a viver desamarrada da sua reprodutibilidade.
A música eletrônica dos anos 90 , que estéticamente não acrescentou coisa nenhuma , talvez seja a vanguarda dessa nova praxis musical .Talvez eu e o Humberto que ainda insistimos no meio devamos pensar em termos de DJ sets , ao invés de shows...
Só prá começar essa conversa que é comprida e complexa.
Beni, foi pensando nessa questão da música gravada como simulacro que citei o Glenn Gould.
ResponderExcluirNo início dos anos 60, em pleno auge da carreira como live performer, resolveu abandonar as apresentações porque chegou à conclusão de que era no estúdio, com todos os seus recursos, que conseguiria obter a forma perfeita. Ou seja, onde então todos viam como simulacro, ele vislumbrou o contrário.
Wikipedia:
"He was attracted to the technical aspects of recording, and considered the manipulation os tape to be another part of the creative process. Although Gould's recording studio producers have testified that he needed splicing (or overdubbing) less than most performers, Gould used the process to give him total artistic control over the recording process. He recounted his recording of the A minor fugue from Book I of the Well-Tempered Clavier and how it was spliced together from two takes, with the fugue's expositions from one take and its episodes from another."
(Deu pra notar que eu sou fã dele?)
Sinceramente, acho que a música gravada já conquistou sua autonomia como forma de arte há muito tempo. Só para ficar no Rock, o que são os Beatles depois de 1966? E o Sinchronicity do Police? E os discos do Led Zeppelin, que mesmo sendo arrasadores ao vivo criaram jóias insuperáveis? Não vejo mais isso como uma questão. Sua imagem de cachorro correndo atrás do rabo é ótima: às vezes a gravação persegue o ao vivo, às vezes o contrário.
A música eletrônica dos anos 90 esteticamente não acrescentou coisa nenhuma? É, essa conversa é comprida e complexa mesmo. Abraço!
Não tem mais como esse cão ficar inteiro novamente, definitivamente a música gravada é uma forma de arte e entrtenimento inteirinha, honesta e com características próprias e estimulantes. E o remix , os Djs, a música feita de recortes, de smaplers e tudo mais são apenas algumas das ramificações naturais desse modelo de música. O fato de não conseguirmos saber o que fazer com ela não a faz desaparecer, infelizmente ou felizmente. Na Europa deu para sacar que em economias mais regadas com a matéria prima dinheiro o "tudo ao mesmo tempo agora" way of life parece ser o modelo do presente, CDs em prteleiras ao lado de armários de long plays em vinyl e suas embalagens maravilhosas, ao lado de games e de IPods....sururubaba.
ResponderExcluirOs produtos fofos, as gulozeimas que tanto citei, sim todas enfileiradas. Sem muito mistério.
+ e+ abçs
Humberto Barros
Humberto, acho que é isso: a saída é a multiplicação e convergência das guloseimas.
ResponderExcluirMarcelo e Humberto ,
ResponderExcluirNo terreno da música pura , a música de concerto , onde as pessoas debatem conceitos, essa questão está posta desde os anos 40.
O nosso amado doidinho Glen Gould porque era um superstar desse universo caretíiissimo , teve a possibilidade de colocar esse debate acadêmico para o grande público, quando resolveu , como os Beatles, que a forma de arte dele era o rabo não o cachorro.
Mas a autonomia de uma forma de arte não é decidida simplesmente pelo artista , ela depende da aceitação do público.
Por isso Karlheinz Stockhausen,( e seus discípulos do Kraftwerk) Steve Reich e Terry Ryley , que se propuseram a trabalhar só com o rabo, acabaram tendo que dar um osso pro cachorro de vez em quando , como aliás fez o próprio Gould. Por isso o nosso Eno tem que produzir discos do U2 e do Coldplay, bandas que ganham seu dinheiro performando no velho modelo.
Nesse sentido é que a música eletrônica dos anos 90 e seus Djs talvez seja a verdadeira revolução, na medida que formou um público para música gravada descolada de uma pseudo-reprodução.
Sobre a discussão estética: Generalizações são sempre burras , a minha não é diferente.
O DJ Shadow por exemplo é um artista inovador fruto nessa cena. Mas se vc. comparar com outros periodos da música pop, verá que a inovação musical nesses anos foi muito pequena. Foi mais a diluição e a popularização das idéias daqueles caras citados acima do que própriamente um período de grande criação. Agora está me parecendo que a inovação era formal ...mas isso só o futuro dirá.
Mas vc. veja que a realidade prática da vida obrigou gente como o Stockhause, o Reich e o Terry Riley , que definitivamente estavam empenhados em trabalhar mais com o rabo do que o cachorro , à enveredar pelos concertos
Ih .. ficou um rabo , sem cachorro...
ResponderExcluirNão deve demorar muito para que os ouvintes possam "personalizar" as músicas.
ResponderExcluirTenho um tocador de mp3 que altera a velocidade da música sem mudar o vocal.
Muito interessante. Recordo que quase não ouvia a versão em estúdio de "The Boys Light Up", do Australian Crawl, por achar muito lenta.
Ao vivo era mais rápida e legal. Achei bacana a opção de acelerar.
E se pudéssemos selecionar os instrumentos/trilhas, assim como nos arquivos .midi?
E se pudéssemos remontar as músicas ao nosso gosto?
Por exemplo, cada música é dividida em várias partes: introdução, base, ponte, refrão, solo, etc.
Imagine dar ao ouvinte a opção montar outra sequencia sem prejudicar muito o andamento da música.
Enfim, é uma mudança radical na maneira como interagimos com a música e que acho que pode se tornar viável no futuro.
Paulo
Ficou a cauda..........longa.
ResponderExcluirHumberto.
Arthur, o vinil não é melhor que o cd! Tem uma faixa dinâmica menor que o dito cujo. E o grave que atribuem ao vinil, não é dele, é dos varios filtros que estão no aparelho. O melhor audio é o do DVD gravado e reproduzido em 24/96khz.
ResponderExcluirAbraço.
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